Coronavírus e a Luta de Classes – A Crise do Coronavírus é um Monstro Alimentado Pelo Capitalismo

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Resumo de A Crise do Coronavírus é um Monstro Alimentado Pelo Capitalismo, texto de Mike Davis para o livro Coronavírus e a Luta de Classes. Boa leitura!

A Caixa de Pandora está aberta, e o nosso implacável sistema econômico está tornando tudo muito pior. Coronavírus é o velho filme que temos visto repetidamente desde que o livro de Richard Preston, The Hot Zone, de 1995, nos apresentou ao Ebola. O Ebola foi logo seguido pela gripe aviária, que se propagou aos humanos em 1997, e pelo SARS, que surgiu no final de 2002.

UM NOVO MONSTRO

Os pesquisadores trabalham noite e dia para caracterizar o surto e se deparam com três grandes desafios. Primeiro, a falta permanente de kits de teste, especialmente nos Estados Unidos e África, tem impedido estimativas precisas de parâmetros chave, como a taxa de reprodução, tamanho da população infectada e número de infecções benignas. O resultado tem sido um caos numérico.

Em segundo lugar, este vírus está em mutação à medida que circula através de populações com diferentes composições etárias e condições de saúde. A variação que os americanos irão muito provavelmente contrair já é ligeiramente diferente da do surto original em Wuhan.

Terceiro, mesmo que o vírus permaneça estável e pouco mutável, seu impacto sobre os grupos etários mais jovens pode ser radicalmente diferente nos países e grupos mais pobres. As consequências desconhecidas das interações com a desnutrição e as infecções existentes deveria advertir-nos que a COVID-19 pode tomar um caminho diferente e mais mortal nos bairros de lata densos e doentes da África e do Sul da Ásia.

O LEGADO DA AUSTERIDADE

Desde pelo menos 2000, temos visto nos Estados Unidos repetidamente falhas na linha de frente dos cuidados de saúde.

Tanto a temporada de gripe de 2009 como a de 2018, por exemplo, sobrecarregaram os hospitais em todo o país, expondo a chocante escassez de leitos hospitalares após anos de cortes na capacidade de internação. De acordo com a Associação Hospitalar Americana, o número de leitos hospitalares diminuiu em 39% entre 1981 e 1999. O objetivo era aumentar os lucros aumentando o “censo” (o número de leitos ocupados). Como resultado, há apenas 45.000 leitos de UTI disponíveis para lidar com a projetada torrente de casos graves e críticos decorrentes do coronavírus. No novo século, a medicina de emergência continuou a ser reduzida no setor privado pelo imperativo do “valor de ação”, de aumentar os dividendos e lucros a curto prazo, e no setor público pela austeridade fiscal e reduções nos orçamentos estaduais e federais destinados ao setor. Segundo uma investigação do USA Today apenas oito estados teriam leitos suficientes para tratar os 1 milhão de americanos com mais de 60 anos que poderiam ficar doentes com a covid-19”. Depois de desinvestir na preparação médica de emergência, faltam-nos os suprimentos básicos de baixa tecnologia, bem como respiradores e leitos de emergência.

UMA CRISE DESIGUAL

O surto expôs instantaneamente a divisão de classes na saúde americana. As contradições são mais visíveis na indústria de asilos com fins lucrativos que alberga 1,5 milhões de idosos americanos, a maioria deles pelo Medicare. É uma indústria altamente competitiva, capitalizada por baixos salários, falta de pessoal e cortes ilegais de custos. Muitos destes asilos acham mais barato pagar multas por violações sanitárias do que contratar funcionários adicionais e dar-lhes formação adequada. Por todo o país, muitos mais lares de idosos se tornarão focos de coronavírus. Muitos trabalhadores acabarão por escolher o centro de alimentação em vez de trabalhar sob tais condições e ficar em casa. Neste caso, o sistema pode entrar em colapso – e não devemos esperar que a Guarda Nacional esvazie as fraldas.

O CAMINHO A SEGUIR

É decepcionante que nos debates primários nem Sanders nem Warren tenham destacado a renúncia da indústria farmacêutica à pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos e antivirais. Das 18 maiores empresas farmacêuticas, 15 abandonaram totalmente este campo. Uma vacina universal contra a gripe – isto é, uma vacina que visa as partes imutáveis das proteínas de superfície do vírus – tem sido uma possibilidade durante décadas, mas nunca considerada lucrativa o suficiente para ser uma prioridade.

Precisamos de uma visão mais ousada que pareça quebrar os monopólios dos medicamentos e prover a produção pública de remédios para a vida. Isso requer um projeto socialista independente para a sobrevivência humana que inclua um Segundo New Deal. Os socialistas devem dar o próximo passo e, com as indústrias farmacêuticas e de saúde como alvos imediatos, defender a propriedade social e a democratização do poder econômico.

Ao abordar a pandemia, os socialistas devem encontrar todas as ocasiões para lembrar aos outros a urgência da solidariedade internacional. Concretamente, precisamos agitar nossos amigos progressistas e seus ídolos políticos para exigir um aumento maciço da produção de kits de teste, suprimentos de proteção e medicamentos salva-vidas para distribuição gratuita aos países pobres. Cabe a nós assegurar que a garantia de cuidados de saúde universais e de alta qualidade se torne uma política tanto externa como interna.

Leia a íntegra do texto aqui.

Bibliografia:

DAVIS, Mike. A Crise do Coronavírus é um Monstro Alimentado Pelo Capitalismo. In: DAVIS, Mike, et al: Coronavírus e a luta de classes. Terra sem Amos: Brasil, 2020.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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