A Ditadura Envergonhada: Explicação

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Resumo de Explicação, prefácio de A Ditadura Envergonhada, escrito por Elio Gaspari. Boa leitura!

Em agosto de 1984 terminara o prazo de uma bolsa que recebi do Wilson Center for International Scholars. Minha idéia tinha sido concluir um ensaio, coisa de cem páginas, intitulado “Geisel e Golbery, o Sacerdote e o Feiticeiro”. Já havia escrito umas trinta páginas quando percebi que, ou eu trabalhava muito mais, ou era melhor esquecer o assunto.

Entrei na sala do professor James Billington e disse-lhe que não terminara ensaio algum e chegara à conclusão de que talvez devesse escrever um livro. Os olhos de Billington brilharam: “Você não sabe como fico feliz. Para isso que existe o Wilson Center. Para fazer com que uma pessoa (…) descubra que deve escrever um livro”.

De volta ao Brasil, comecei a recolher material e a aprofundar algumas entrevistas. Falava com Geisel, Golbery e Heitor Ferreira, secretário de ambos. Em diversas ocasiões perguntei a Golbery se ele tinha um arquivo, e ele sempre negou. Era verdade que Golbery não tinha arquivo, mas também era verdade que passara a Heitor milhares de documentos, bilhetes e até rabiscos. Heitor, por sua vez, sempre tinha uma caixa de baixo de sua mesa, no palácio do Planalto, e nela ia atirando papéis. Intocadas, essas caixas foram-me entregues. Formam um acervo de 5 mil documentos, que foram doados ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (CPDOC), da Fundação Getulio Vargas.

Este livro não existiria sem a decisão de Golbery de entregar-me seu arquivo e sem a colaboração de Ernesto Geisel. Convivi com ambos. Com Golbery, de 1969 até as horas anteriores à cirurgia de câncer de pulmão, em setembro de 87. Com Geisel, tive dezenas de conversas a partir de 1979.

Tão relevante quanto a ajuda de Geisel e Golbery foi a de Heitor Aquino Ferreira, secretário de Golbery de 1964 a 1967 e de Geisel de 71 a 79. Ele manteve por mais de duas décadas um diário manuscrito que, em 1985, somava dezessete cadernos. Deu-me cópias do período que vai de 1964 a 1976. Daí em diante, forneceu-me excertos e deu-me vista em outros casos. Até 1992, Heitor Ferreira acompanhou a produção do manuscrito. Em todas as suas leituras teve um só interesse a defender: o idioma e a sua sintaxe.

O professor Candido Mendes de Almeida ajudou-me a conhecer a ação política da Igreja católica. D. Eugênio Sales esclareceu algumas dúvidas. Ralph della Cava orientou-me na reconstrução da atividade das Igrejas cristãs. Ao embaixador Lincoln Gordon devo ajuda no trabalho de reconstituição da política americana em relação ao Brasil em 1964. Ao amigo Marcelo Medeiros, a preservação do arquivo de Carlos Medeiros Silva, parte do qual me confiou. Ao professor Romualdo Pessoa Campos Filho, o acesso a entrevistas relacionadas com a guerrilha do Araguaia. Ronald Levinsohn conseguiu-me cópias de papéis que pareciam ter desaparecido.

Aos generais Leônidas Pires Gonçalves, Antonio Carlos Muricy, Gustavo Moraes Rego, José Maria de Toledo Camargo, Newton Cruz e Octavio Costa devo a narrativa de fatos históricos e boa parte do entendimento da estrutura militar. Ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra devo  esclarecimentos sobre a estrutura dos DOIs e do CIE. O professor Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen e João Manuel Cardoso de Mello ajudaram-me na reconstrução da gestão econômica do período. Antonio Carlos Magalhães, Franco Montoro, José Sarney, Paulo Brossard e Thales Ramalho ajudaram a reconstituir acontecimentos que corriam o risco de desaparecer debaixo do manto da discrição.

Meus velhos amigos Armênio Guedes, Givaldo Pereira de Siqueira, Luiz Mário Gazzaneo, João Guilherme Vargas Netto e Salomão Malina permitiram-me conhecer a ação do PCB. Francisco Carlos de Andrade, Ariston Lucena e José Carlos Giannini ensinaram-me muito da história da ALN e da VPR.

Marcos Sá Corrêa, Getulio Bittencourt e José Casado cederam-me os arquivos que acumularam em suas pesquisas na documentação do governo americano. Ayrton Baffa deu-me acesso aos papéis que guardou a respeito do SNI. Dois informantes, ambos militares, permanecem anônimos. Ao historiador Marco Antonio Villa devo sugestões, a leitura do original e a conferência das notas de pé de página dos documentos e livros citados.

Devo aos profissionais dos serviços de documentação e pesquisa da Editora Abril, da Folha de S.Paulo, d’O Globo, do Jornal do Brasil e d’O Estado de S. Paulo o resgate da parte da história que preservam. A Fernando Gasparian devo o acesso à coleção do semanário Opinião. Cecília Coimbra ajudou-me a conseguir uma coleção completa do Projeto Brasil: Nunca Mais. Flora Abreu e Alcir Henrique da Costa foram solícitos dirimidores de dúvidas a respeito dos porões militares.

Devo a Wanderley Guilherme dos Santos a imposição de rigorosas observações ao conteúdo. Manolo Florentino reestruturou a bibliografia. Márcio Thomaz Bastos e Fernando Lottenberg salvaram-me de erros jurídicos. Lilia Moritz Schwarcz, Claudio Haddad e João Moreira Salles fizeram correções e sugeriram caminhos para ajudar o leitor. A Jonathan Kandell, correspondente do The New York Times durante o governo Geisel, se deve a existência dos dois capítulos que contam a deposição de João Goulart. Maria da Gloria Faria guiou-me na desconhecida condição de autor. Maria da Glória Prado e José Mauro B. Prado copiaram o arquivo do general Golbery e de Heitor Ferreira, reconstruindo cerca de 150 pastas.

Este livro não existiria sem a ajuda dos seis modelos de computadores surgidos durante o tempo que levou para ser escrito. Por conta da política de reserva de mercado, os dois primeiros chegaram à mim pelos desvãos da alfândega. Aos contrabandistas da época, minha homenagem. Luís Fernando Gonçalves desenvolveu uma versão pessoal de um banco de dados que permitiu a acumulação de 28 mil fichas e sua pesquisa.

Por mais de dez anos acreditei que, tendo escrito dois livros, estava na metade do terceiro. Acabei descobrindo que, a menos que decidisse publicar um catálogo telefônico, já eram quatro. A essa altura tive a sorte de ceder à persistência de Luiz Schwarcz, entregando à Companhia das Letras a edição do que escrevera. Poucas vezes em minha vida profissional tive contato com uma equipe tão qualificada. Maria Emília Bender coordenou o emaranhado de questões que acompanharam o processo editorial, como a checagem de referências a jornais e revistas. São de Raul Loureiro o projeto gráfico e a capa. A caçada e a seleção das fotografias são de Vladimir Sacchetta. Durante seis meses Rosangela de Souza Mainente dedicou-se a checagens adicionais e à conversão de todas as notas de pé de página que mencionavam edições esgotadas de livros republicados recentemente (o Combate nas trevas, de Jacob Gorender, por exemplo). Os leitores jamais haverão de perceber quanto devo a Márcia Copola, responsável pela edição do texto. Miguel Said Vieira buscou a correta grafia dos nomes de centenas de pessoas citadas. Com toda essa ajuda, os erros que certamente terão sobrevivido devem ficar por conta exclusiva do autor.

Aquilo que foi um ensaio, virou um livro e acabou em quatro, segue um plano. É este: Nos dois primeiros vai contado o período de 31 de março de 1964,  da deposição de João Goulart, à aniquilação da guerrilha do Araguaia, ocorrida entre dezembro de 1973 e o primeiro semestre de 74. Nos outros dois irão contadas as vidas de Geisel e Golbery, a trama que os levou de volta ao Planalto e os quatro primeiros anos do governo de Geisel. Terminarão em outubro de 1977, quando o ministro do Exército, general Sylvio Frota, foi demitido. Até esse ponto, depois de dezoito anos, os textos estão escritos.

Falta escrever a história que vai de outubro de 1977 até março de 1979, quando Ernesto Geisel, tendo acabado com a ditadura do AI-5, tirou a faixa presidencial. Dois posfácios levarão até a explosão da bomba no Rio centro, em 1981, e ao final das existências do Sacerdote e do Feiticeiro.

Em nenhum momento passou pela minha cabeça escrever uma história da ditadura. Falta ao trabalho a abrangência que o assunto exige, e há nele uma preponderância de dois personagens (Geisel e Golbery) que não corresponde ao peso histórico que tiveram nos 21 anos de regime militar. O que eu queria contar era a história do estratagema que marcou suas vidas. Fizeram a ditadura e acabaram com ela.

Por último, pelo relevo, devo a Dorrit Harazim a paciência com o marido e as sugestões de reconstrução de capítulos estruturados desastrosamente. Sua perseverante indignação foi uma baliza que o tempo não abateu.

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Bibliografia:

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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