Resumo de Revolução Social, capítulo de Era dos Extremos de Eric Hobsbawm. Boa Leitura!
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I
Este é o resumo de Era dos Extremos – Revolução Social, capítulo 10 do livro de Eric Hobsbawm. Boa leitura!
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Em determinado ponto do terceiro quartel do século o mundo tornou-se pós-industrial, pós-moderno, qualquer coisa. Assim a transformação mais rápida e universal na história humana entrou na consciência das mentes pensadoras que a viveram. Essa transformação é o tema do presente capítulo.
A mudança social mais impressionante da segunda metade deste século, e que nos isola do mundo do passado, é a morte do campesinato. Camponeses e agricultores continuaram sendo uma parte maciça da população empregada, mesmo em países industrializados, até bem adiantado o século XX. Contudo, no início da década de 1980, nenhum país a oeste das fronteiras da “cortina de ferro” tinha mais de 10% de sua população na atividade agrícola, com exceção da República da Irlanda e dos Estados ibéricos.
Com o maquinário que o agricultor em países ricos e desenvolvidos tinha agora à sua disposição e as realizações da química agrícola, criação seletiva e biotecnologia, a agricultura não mais precisava de tantas mãos e braços sem os quais uma safra não podia ser colhida. Quando o campo se esvazia, as cidades se enchem. O mundo da segunda metade do século XX tornou-se urbanizado como jamais fora.
II
Muito mais universal do que o declínio e queda do campesinato foi o crescimento de ocupações que exigiam educação secundária e superior. A demanda de vagas na educação multiplicou-se em ritmo extraordinário. E o mesmo se deu com o número de pessoas que a tinham tido ou estavam tendo.
A explosão de números foi particularmente dramática na educação universitária. Antes da Segunda Guerra Mundial, mesmo a Alemanha, França e Grã-Bretanha não tinham juntos mais que 150 mil universitários. No fim da década de 1980 os estudantes eram contados aos milhões. À primeira vista, parece curioso que a corrida para as universidades tenha sido menos acentuada nos países socialistas.
O crescimento da educação superior deveu-se à pressão do consumidor, a que os governos socialistas não estavam preparados para responder. Era óbvio para planejadores e governos que a economia moderna exigia muito mais administradores, professores e especialistas técnicos que no passado.
Essas massas de rapazes e moças e seus professores constituíam um novo fator na cultura e na política. A consequência mais imediata e direta foi uma inevitável tensão entre essa massa de estudantes e instituições que não estavam preparadas para tal influxo. O ressentimento contra um tipo de autoridade, a universidade, ampliava-se facilmente para o ressentimento contra qualquer autoridade e, portanto (no Ocidente), inclinava os estudantes para a esquerda. Assim, não surpreende que a década de 1960 se tenha tornado a década da agitação estudantil por excelência.
III
Ao contrário das populações do campo e universitárias, as classes operárias industriais não sofreram terremotos demográficos até que, na década de 1980, começaram a declinar muito visivelmente. A ilusão de uma classe operária em colapso se deveu mais a mudanças dentro dela, e dentro do processo de produção, do que a uma hemorragia demográfica.
A aparente crise da classe operária e seus movimentos, sobretudo no Velho Mundo industrial, era patente muito tempo antes de haver – em termo globais – qualquer questão de sério declínio.
Era uma crise não de classe, mas de sua consciência. No fim do século, as próprias populações misturadas e heterogêneas que ganhavam a vida nos países desenvolvidos vendendo seu trabalho braçal por salários aprenderam a ver-se como uma única classe trabalhadora. Eram unidos pela coletividade: o domínio do “nós” sobre o “eu”. O que dava aos partidos e movimentos operários sua força original era a justificada convicção dos trabalhadores de que pessoas como eles não podiam melhorar sua sorte pela ação individual, mas só pela ação coletiva. Mas “nós” dominava “eu” não apenas por motivos instrumentais, e sim porque a vida operária tinha de ser em grande parte pública, por ser o espaço privado tão inadequado. Todas as formas de diversão, além da festa particular, tinham de ser públicas.
Contudo, durante os anos de ouro, a combinação de pleno emprego e uma sociedade de autêntico consumo de massa transformou totalmente a vida dos operários nos países desenvolvidos. Diversões até então só disponíveis a milionários estavam agora nas mais modestas salas de visitas.
Os trabalhadores qualificados viram-se como defensores potenciais da direita política, tanto mais quanto as organizações trabalhistas e socialistas tradicionais naturalmente continuavam comprometidas com a redistribuição e a assistência social. A dessegregação, ou antes uma mudança na segregação, promoveu esse desmoronamento do bloco trabalhista.
Ao mesmo tempo, a migração em massa trouxe a diversificação étnica e racial da classe operária e, em consequência, os conflitos dentro dela. O problema estava não tanto na diversidade étnica. Grupos de imigrantes se viam concentrados em determinados distritos, ou fábricas, ou oficinas, ou níveis da mesma indústria, deixando o resto para outros.
Além disso, os novos imigrantes entraram no mesmo mercado de trabalho que os nativos, e com os mesmos direitos, a não ser onde foram oficialmente segregados. Os dois casos geraram tensão. Homens e mulheres com direitos formalmente inferiores dificilmente viam seus interesses como idênticos aos de pessoas que gozavam de um status superior. Por outro lado, operários franceses ou britânicos não estavam de modo algum dispostos a ver estrangeiros promovidos antes deles.
IV
Uma grande mudança que afetou a classe operária foi o papel impressionantemente maior nela desempenhado pelas mulheres; e sobretudo as mulheres casadas. Em países recém-desenvolvidos, e nos enclaves de desenvolvimento manufatureiro no Terceiro Mundo, floresceram as indústrias de mão-de-obra intensiva sedentas de trabalho feminino. As mulheres também entraram na educação superior. Em 1980, estudo superior já era tão comum entre moças quanto entre os rapazes. Tais eventos explicam o reflorescimento dos movimentos feministas a partir da década de 1960.
As mulheres como um grupo tornavam-se agora uma força política importante. Não admira que os políticos começassem a cortejar essa nova consciência feminina, sobretudo na esquerda, onde o declínio da consciência operária privava os partidos de parte de seu antigo eleitorado. De qualquer modo, os motivos pelos quais as mulheres em geral mergulharam no trabalho pago talvez se devessem à pobreza, à preferência dos patrões por operárias (menos bem pagas e menos rebeldes) ou simplesmente ao crescente número de famílias chefiadas por mulheres. A migração em massa da mão-de-obra masculina e os massacres das grandes guerras contribuíram para esse cenário.
Inicialmente, essas questões no Ocidente, e notadamente nos EUA, pioneiros no reflorescimento do feminismo, diziam respeito basicamente a problemas que afetavam mulheres da classe média. O feminismo americano demorou a abordar interesses vitais da operária como a licença-maternidade.
Apesar disso, nos países desenvolvidos, o feminismo de classe média, ou o movimento das mulheres educadas ou intelectuais, alargou-se numa espécie de sensação genérica de que chegara a hora da liberação feminina. Isso se dava porque o feminismo específico de classe média inicial suscitava questões que interessavam a todas: e essas questões se tornaram urgentes à medida que a convulsão social que esboçamos gerava uma dramática transformação das convenções de comportamento social e pessoal. As mulheres foram cruciais nessa revolução cultural, que girou em torno das mudanças na família tradicional e nas atividades domésticas.
Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.