Este é o resumo de Geografia Histórica: Aspectos Econômicos, capítulo 14 de História Geral da África, obra organizada pela UNESCO. Boa leitura!
O presente capítulo tratará fundamentalmente de considerar os recursos naturais básicos em termos da forma como foram descobertos e utilizados na África desde a Pré-História.
Os minérios e o desenvolvimento da tecnologia humana
Vastas zonas da África repousam sobre massas rochosas classificadas entre as mais antigas do planeta. As rochas cristalinas antigas recobrem pelo menos um terço de sua superfície. Entre as mais importantes dessas formações, convém destacar as da zona cuprífera do Shaba (Zaire), cuja extensão ultrapassa 300 km. Esta zona contém não só as maiores jazidas de cobre do mundo, como também algumas das mais ricas jazidas de rádio e cobalto.
O resto da África, ou seja, cerca de dois terços do continente, apresenta antigas rochas sedimentares que remontam ao Pré-Cretáceo. Devido à sua idade, estas rochas também contêm inúmeros depósitos minerais. Em contrapartida, o carvão praticamente inexiste no continente. Como que para compensar essa deficiência, as rochas sedimentares mais recentes do Pós-Cretáceo encerram, no Saara e no litoral da África ocidental, vastos lençóis de petróleo e gás natural.
Esta riqueza mineral contribuiu em grande parte para sustentar a organização e a exploração humanas durante um longo período da história. Supõe-se, por exemplo, que o controle do comércio do ouro entre o oeste e o norte da África através do deserto foi, durante o período medieval, uma das principais razões do surgimento e da queda de impérios e reinos no Sudão ocidental. Por outro lado, os europeus, no decorrer dos últimos séculos, transformaram a África em reservatório colonial de minérios brutos para alimentar o crescimento das indústrias europeias.
A importância dos minerais no desenvolvimento da tecnologia humana durante a pré-história vai além da simples fabricação de ferramentas, armas e recipientes: abrange também a construção de moradias, onde o barro substituía o gesso. Edifícios públicos importantes, monumentos como as pirâmides do Egito exigiram grandes quantidades de rochas graníticas duras ou de quartzito. Os minerais forneceram os pigmentos para as pinturas rupestres. Os pigmentos eram obtidos através da trituração de diferentes tipos de rochas, como a hematita, o manganês e o caulim, misturando-se o resultante com elementos gordurosos ou resinosos.
Os recursos vegetais e o crescimento populacional
A África é, antes de tudo, um continente de pradarias. Uma grande variedade de ervas vivazes cobre mais de 50% de sua superfície total; em seguida vem o deserto, com cerca de 30%; depois a floresta, com menos de 20%.
Além da caça e da coleta, as riquezas vegetais tinham uma importância capital no que concerne à provisão de utensílios, à indumentária e à moradia. Nos locais em que a caça de grande porte era insuficiente para garantir o suprimento de peles – nas regiões arborizadas, por exemplo – usava-se a casca das árvores como vestimenta. É provável que os machados cortantes e encabados, como os encontrados nos arredores dos rochedos do Mwela, no norte da Zâmbia, tenham servido para extrair a casca das árvores e prepará-las para a confecção de roupas, recipientes e cordas. A partir do Mesolítico, principalmente, os produtos vegetais passaram a ser utilizados na construção de abrigos, que substituíam a habitação nas cavernas. No Neolítico, especialmente nas zonas onde havia sido descoberta a agricultura, difundiram-se abrigos feitos de matérias vegetais e, às vezes, de barro e vegetais. Constituem, sem dúvida, o marco inicial do domínio cultural do homem sobre a paisagem.
Mas foi a aptidão para escolher e domesticar novas plantas dentre as espécies selvagens que consagrou, finalmente, a superioridade humana. A descoberta da agricultura implicou uma nova e fecunda relação entre o homem e o seu biótopo. A necessidade de arrotear terras para implantar novas culturas e de eliminar outras plantas que pudessem disputar com elas os elementos nutritivos do solo acarretou em toda a África mudanças radicais no caráter da vegetação. O fogo talvez tenha sido o elemento mais poderoso utilizado com aquela finalidade. Como consequência das queimadas frequentes, que acabavam por destruir as espécies vulneráveis da floresta densa, criavam-se novas condições, favoráveis à expansão progressiva das pradarias.
Recursos animais e diversidade cultural
A domesticação de animais na África restringiu-se praticamente ao jumento, ao gato, à galinha-d’angola, ao carneiro e ao boi. O pastoreio, todavia, não se desenvolveu de maneira uniforme em todos os meios do continente. Pode-se apontar como uma das causas a proliferação de outras espécies animais, que exerceram influência particularmente negativa sobre a expansão das riquezas do continente. O primeiro caso a se mencionar é o da mosca tsé-tsé. Grande e bastante móvel, é ela o principal transmissor da tripanossomíase, infecção que provoca no homem a doença do sono e que é mortal para os animais. Uma vez que a presença dessa mosca impossibilitava a utilização do gado de grande porte pelas comunidades agrícolas, esses animais nunca foram empregados para tração.
O mosquito da malária também desempenhou papel importante na história do continente. Até o século XX, ele efetivamente desencorajou os europeus na tentativa de se instalarem sob o clima quente e úmido da África ocidental, resguardando, assim, a região dos problemas interraciais que abalaram a história das terras altas da África do norte, do leste, do centro e do sul, vítimas da colonização.
As reservas de água e a mobilidade humana
Se há áreas do continente com os mais altos índices pluviométricos do mundo, outras há que apresentam os índices mais baixos. As imensidões do Saara e do Calaari são o testemunho irrefutável da implacável aridez de grandes porções da África.
Em extensas áreas do continente, todavia, os vales fluviais estão infestados de insetos nocivos. Além do mais, o regime dos rios acompanha de perto o das chuvas, sendo de pouca ajuda durante os períodos de precipitações insuficientes ou de prolongada estiagem. Excetuando-se o vale do Nilo, a tecnologia tradicional não conhecia meios de armazenar água para as épocas de seca. O pequeno desenvolvimento tecnológico impedia também o aproveitamento das águas subterrâneas localizadas além de certa profundidade.
Nas regiões em que existe água em quantidade suficiente, em que a agricultura pôde desenvolver-se, uma população organizada cresce. Essa evolução depende não só das reservas de água como também da fertilidade dos solos.
Os recursos do solo e a evolução social das comunidades
Uma das características marcantes da geografia da África reside na pequena extensão dos solos realmente férteis e em sua extrema disseminação. Compreendem eles os solos argilosos profundos, encontrados principalmente em regiões da África oriental. Igualmente férteis são os ricos solos aluviais encontrados nas planícies de inundação de rios como o Nilo. Possibilitando abundantes colheitas, esses dois tipos de terreno favoreceram o crescimento de densas populações humanas. A distribuição esparsa da população em extensas áreas do continente, bem como os efeitos dessa dispersão na evolução social devem ser considerados como um fator nefasto na história da África.
Conclusão
Mais que qualquer outro fator, a intervenção estrangeira teve um efeito sinistro sobre o desenvolvimento geral do continente no decorrer da longa história do comércio escravo. Mas o fato de uma tal intervenção ter sido possível não constituiria já uma severa advertência aos riscos a que está exposto todo grupo humano que deixa de zelar continuamente pela constituição de organizações sociais cada vez mais coesas, extensas, complexas e fortes, que possibilitem fazer frente a eventuais desafios?
A história da África de nada nos servirá se não salientar esse fato. A geografia contemporânea da África revela um continente ainda rico em recursos naturais, como na Pré-História. A exploração desses recursos só se faz possível com a condição de que os povos africanos se organizem em grandes comunidades integradas, de forma a constituir bases sólidas para um real desenvolvimento.
Bibliografia:
MABOGUNJE, Akin. Geografia Histórica: Aspectos Econômicos. In: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed – Brasília: UNESCO, 2010.