Resumo de Classificação das Línguas da África e Mapa Linguístico da África, capítulo 12 de História Geral da África, obra organizada pela UNESCO. Boa leitura!
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PARTE I: Classificação das línguas da África
As línguas podem ser classificadas de infinitas maneiras. Um método particular, porém, comumente chamado de método de classificação genética, possui características singulares e importantes, de modo que ao empregarmos o termo “classificação” sem outras especificações em relação à língua, estaremos referindo-nos a este tipo de classificação.
Natureza e objetivos da classificação das línguas
Uma classificação genética apresenta-se sob a forma de conjuntos de unidades hierárquicas que possuem a mesma organização lógica de uma classificação biológica em espécies, gêneros, famílias, etc., em que os membros do conjunto situado em um determinado nível se incluem em conjuntos de um nível superior. A importância das classificações realizadas segundo tais princípios reside principalmente no fato de refletirem a história real da diferenciação étnica dentro do domínio da língua. Além disso, formam a base necessária à aplicação dos métodos da linguística comparativa, que permite reconstruir grande parte da história linguística de vários grupos. Por fim, esse conhecimento da história linguística fornece a base necessária para inferências acerca da história cultural não-linguística dos grupos em questão.
História da classificação das línguas da África
Evidentemente, não seria possível empreender uma classificação completa das línguas da África sem uma compilação exaustiva de dados empíricos relativos a essas línguas. Somente no início do século XIX é que se puderam reunir elementos suficientes para uma primeira tentativa de classificação.
O resultado global é que as línguas africanas (excluindo-se o malgaxe) classificam-se em quatro famílias principais.
Línguas afro‑asiáticas
Estas línguas, também chamadas de camito-semíticas, cobrem toda a África do Norte e quase todo o chifre da África (Etiópia, Somália); algumas línguas do ramo cuxítico estendem-se ao sul até a Tanzânia. Ademais, o ramo semítico inclui línguas que abrangiam quase todo o Oriente Médio. Em geral considera-se que o afro-asiático compreende cinco divisões quase igualmente diferenciadas: o berbere, o egípcio antigo, o semítico, o cuxítico e o chádico. No entanto, Fleming aventou recentemente que o grupo de línguas até agora classificado como cuxítico-ocidental, em que se incluem o kafa e outras línguas do sudoeste da Etiópia, na verdade constitui um sexto ramo para o qual se propuseram os nomes “omótico” e “ari-banna”.
Níger‑Kordofaniano
Esta família possui dois ramos bastante desiguais em número de falantes e em extensão geográfica. O primeiro, níger-congo, compreende grande parte da África ao sul do Saara, incluindo quase toda a África Ocidental, partes do Sudão central e oriental. Outro ramo do níger-kordofaniano, o kordofaniano propriamente dito, confina-se a uma zona limitada da região do Kordofan no Sudão.
A divisão fundamental do grupo níger-congo está entre as línguas mande e o restante. O mande distingue-se pela ausência de muitos dos itens lexicais mais comuns encontrados nas línguas do níger-congo e pela ausência de qualquer traço preciso de classificação nominal, geralmente encontrados no kordofaniano e no resto do níger-congo.
Família Nilo‑Saariana
A outra grande família de línguas negro-africanas é a nilo-saariana. De modo geral, é falada a norte e a leste das línguas níger-congo e predomina no vale superior do Nilo e nas porções orientais do Saara e do Sudão. Entretanto, possui um alongamento ocidental no Songhai, no baixo vale do Níger. Compreende um ramo muito extenso, o chari-nilo, que engloba a maior parte das línguas da família.
Família Khoisan
Todas as línguas khoisan possuem cliques entre as consoantes e a maioria de seus falantes pertence ao tipo san, fisicamente característico.
A maior parte das línguas khoisan é falada na África do Sul. Entretanto, existem dois pequenos grupos de populações, os Hatsa e os Sandawe, situados muito mais ao norte, na Tanzânia, cujas línguas diferem acentuadamente tanto entre si quanto das línguas do grupo da África do Sul. Desse modo, a família divide-se em três ramos: 1. hatsa; 2. sandawe; 3. khoisan sul-africano.
Finalmente, faz-se necessário mencionar as línguas europeias e indianas, de importação recente, que, em alguns casos, são faladas atualmente por populações nascidas na África. O inglês, além de falado na África do Sul e no Zimbabwe, é a língua dos descendentes de negros americanos que fundaram a Libéria; é falado também, na forma crioula (krio), em Freetown, Serra Leoa. O africâner, parente próximo do neerlandês, é falado na África do Sul. Existe na África do Norte uma importante população de línguas francesa, espanhola e italiana. Uma forma crioula do português constitui a primeira língua de alguns milhares de falantes da Guiné e de outras regiões. Finalmente, algumas línguas originárias da Índia são utilizadas na África oriental. Compreendem as línguas arianas e dravidianas, sendo a mais importante o gujarati.
Parte II: Mapa linguístico da África
Embora tenha uma densidade populacional inferior à do mundo tomado como um todo, a África possui um grau de complexidade linguística mais elevado do que qualquer outro continente. Isso explica por que não existe, até o momento, um mapeamento linguístico detalhado do continente africano.
Embora os historiadores não devam aceitar sem reservas as classificações existentes das línguas africanas, não seria demais ressaltar a importância do mapa linguístico da África enquanto fonte de informações sobre a pré-história do continente. Obras de maior profundidade ainda estão por vir e aguarda-se uma nova geração de historiadores das línguas que sejam, eles próprios, falantes de línguas africanas. Estarão estes habilitados a consolidar os trabalhos preliminares imprescindíveis à realização de uma comparação exata e minuciosa de línguas próximas e estreitamente aparentadas. A partir daí, então, será possível voltar-se para uma interpretação mais estratégica do mapa linguístico da África como um todo. Embora possua um grau de complexidade linguística maior do que qualquer outro continente, a África se notabiliza pelo fato de que dois terços de suas línguas pertencem a uma só área de maior afinidade e de que esses dois terços, compostos de modos diferentes, confinam-se à zona de fragmentação subsaariana. A África de língua bantu é a única região do continente a ter constituído objeto de discussões importantes a respeito da interpretação pré-histórica de dados linguísticos. A chave para a interpretação pré-histórica desses dados, em escala continental, será uma melhor compreensão, de nossa parte, das relações linguísticas no interior da zona de fragmentação. Entretanto, a extensão da tarefa não poderia ser subestimada.
Bibliografia:
GREENBERG, Joseph Harold. Classificação das Línguas da África e Mapa Linguístico da África. In: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed – Brasília: UNESCO, 2010.