Este é o resumo de Quadro Cronológico das Fases Pluviais e Glaciais da África , capítulo 16 de História Geral da África, obra organizada pela UNESCO. Boa leitura!
PARTE I
É nosso objetivo aqui apresentar uma exposição geral de algumas das mudanças ocorridas nos aspectos físicos do continente africano durante o Pleistoceno e o Holoceno. Durante esse período, de cerca de 2 milhões de anos, formaram-se os vales e os terraços fluviais, estabeleceram-se as atuais linhas da costa e ocorreram grandes mudanças na fauna e na flora do globo. As formas proto-humanas diferenciaram-se dos primatas ancestrais no início do Holoceno, e os mais antigos utensílios identificáveis são encontrados nos horizontes do Pleistoceno Superior.
Procuraremos, portanto, estudar essas mudanças no quadro das principais regiões climáticas atuais do continente. Essas regiões podem ser classificadas em duas categorias: zonas equatorial e subequatorial; e zonas tropical e subtropical.
Zonas equatorial e subequatorial
A zona equatorial cobre atualmente a região da bacia do Zaire, no oeste da África, caracterizada por ventos pouco variáveis, ligeiras diferenças sazonais de temperatura e umidade, tornados e tempestades frequentes. Esta zona é atualmente coberta por florestas equatoriais. A zona subequatorial abrange a maior parte da região média da África, caracterizando-se pela presença de massas de ar de tipo equatorial no verão e de tipo tropical no inverno. O inverno é seco e ligeiramente mais fresco que o verão. A maior parte desta zona compreende áreas com umidade abundante que sustenta uma vegetação de savana tropical. As bordas setentrional e meridional, entretanto, apresentam atualmente uma vegetação de estepe tropical.
As variações de pluviosidade nessas zonas durante o Pleistoceno permitem subdividir esta época em uma sucessão de pluviais e interpluviais. Os pluviais são evidenciados por um maior acúmulo de sedimentos lacustres ou por uma elevação das linhas de margem deixadas em várias bacias fechadas como resultado da expansão dos lagos. Os interpluviais caracterizam-se por uma intensificação da atividade eólica, durante a qual as areias transportadas pelo vento foram depositadas ou redistribuídas muito mais ao sul do limite meridional atual das dunas móveis, e que corresponde a mudanças radicais na vegetação.
Zonas tropical e subtropical
A atual zona tropical da África possui um regime de ventos provenientes sobretudo do leste e nítidas variações sazonais de temperatura. A parte ocidental desta zona, situada na costa do Atlântico, apresenta alísios estáveis, temperatura amena, alta umidade atmosférica e baixíssima pluviosidade. A parte restante abrange os grandes desertos do norte e do sul do continente. São regiões quentes e áridas, com uma grande variação diurna de temperatura e um máximo absoluto de temperatura. A zona subtropical compreende as extremidades setentrional e meridional do continente e se caracteriza pela presença de massas de ar tropicais no verão e de massas de ar de tipo temperado no inverno. A temperatura e a pluviosidade sazonais variam consideravelmente. As regiões de clima mediterrâneo apresentam tempo bom e claro no verão, e chuvoso no inverno.
– O Saara
O Saara representa talvez o elemento mais notável desta zona. Estendendo-se por mais de 5500 km do mar Vermelho ao Atlântico, e tendo de norte a sul, uma largura média superior a 1700 km, cobre quase um quarto da área total do continente africano. Em toda essa região, a pluviosidade, embora muito desigualmente distribuída, é superior a 100 mm/ano em certos locais e, em média, muito inferior. Consequentemente, não se conhecem rios perenes no Saara, com exceção do Nilo, que recebe suas águas de fontes situadas fora do deserto.
– O Nilo
Pode-se dizer que o Nilo passou por cinco episódios principais desde a abertura de seu curso no Mioceno Superior. Cada um destes episódios caracterizou-se por um rio alimentado principalmente por fontes exteriores ao Egito. Por volta do fim dos quatro primeiros episódios (o último ainda está em andamento), o rio parece ter diminuído ou deixado completamente de fluir no Egito. Essas grandes fases de recessão foram acompanhadas de importantes mudanças físicas, climáticas e hidrológicas. Os cinco cursos d’água que ocuparam o vale do Nilo, desde sua escavação no Mioceno superior, são chamados: Eo-Nilo (Tmu); Paleo-Nilo (Tplu); Proto-Nilo (Q 1 ); Pré-Nilo (Q 2 ); e Neo-Nilo (Q 3 ). Pode-se afirmar, que os sedimentos do vale do Nilo não são muito diferentes dos registrados no Saara.
Concluindo, cabe observar que os pluviais africanos têm possivelmente suas origens nas variações climáticas do globo que, em teoria, corresponderiam às glaciações da Europa e da América do Norte.
PARTE II
Os últimos milhões de anos da história de nosso planeta foram marcados pela alternância de profundas modificações climáticas. Na África, a manifestação mais espetacular das variações climáticas do Quaternário foi a extensão das áreas lacustres em zonas atualmente áridas, e o desenvolvimento de grandes extensões de dunas em regiões que hoje apresentam um clima mais úmido.
Glaciações quaternárias e cronologia
É provável que, no Quaternário, pelo menos doze resfriamentos importantes tenham sido registrados nos depósitos contínuos acumulados no fundo dos oceanos. Cerca de oito somente foram reconhecidos nos depósitos continentais do norte da Europa.
Climatologia atual e recente na África
Na África, o ritmo anual de alternação de uma estação seca e de uma estação úmida na zona intertropical está ligado ao deslocamento da zona de convergência intertropical (C.I.T.).
No recente resumo de J. Maley (1973) e L. Dorize (1974), a C.I.T. representa o ponto de encontro da monção (ar úmido proveniente das regiões equatoriais ou alísio marítimo do hemisfério sul) e o harmatã (ar seco do Saara). A posição da C.I.T. varia muito, não apenas de estação para estação, mas também de dia para dia, em função do campo de pressão de toda a África e do oceano Atlântico.
Conclusão
O Cenozoico superior caracteriza -se, nos últimos 5 milhões de anos, pela acentuação dos gradientes térmicos do globo, ligada a grandes mudanças climáticas no decorrer do tempo. Esta acentuação provocou, nas altas latitudes, consideráveis variações de temperatura, responsáveis pelos períodos glaciais e interglaciais. Nas latitudes intertropicais, as flutuações térmicas foram relativamente atenuadas, mas as circulações atmosféricas, perturbadas pelo fortalecimento ou enfraquecimento das frentes polares, provocaram variações consideráveis na distribuição e quantidade de chuvas, que contribuíram para mudar profundamente o ambiente das diferentes zonas climáticas. Modificando periodicamente o meio geográfico e vegetal, cenário em que vive a fauna e se desenvolvem os horninídeos, estas variações climáticas estabelecem o ritmo da história da evolução da África de forma mais discreta que as glaciações na Europa.
O que se deve reter dessa breve análise do estado atual dos conhecimentos sobre a cronologia e as mudanças climáticas na África é a necessidade de dar prosseguimento aos trabalhos de observação e mediação antes de cristalizar as informações dispares de que dispomos na rígida estrutura de uma teoria. Por outro lado, percebe-se a importância da escala de tempo das diferentes manifestações de mudança climática. Deve-se ter o cuidado de colocar cada observação e cada fenômeno na escala de tempo adequada.
Bibliografia:
Faure, H. e SAID, I. R. Quadro cronológico das fases pluviais e glaciais da África In: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed – Brasília: UNESCO, 2010.