O Capital: A Mercadoria

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Resumo de O Capital – A Mercadoria. É o primeiro capítulo do livro de Karl Marx. Boa leitura!

Os dois fatores da mercadoria: Valor de uso e valor (substância do valor, grandeza do valor)

A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias. Nossa investigação começa, portanto, com a análise da mercadoria.

A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Na forma de sociedade a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais do valor de troca. Observemos a coisa mais de perto.

Tomemos duas mercadorias, por exemplo, 1 quarter de trigo = x quintais de ferro. Essa equação diz que algo em comum da mesma grandeza existe em duas coisas diferentes. Cada uma das duas deve, portanto, ser redutível a essa terceira. O que se revela na relação de troca ou valor de troca da mercadoria é, portanto, seu valor.

Um valor de uso ou bem possui valor porque nele está materializado trabalho humano abstrato. Como medir então a grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da “substância constituidora do valor”, o trabalho. É o tempo de trabalho socialmente necessário para produção de um valor de uso o que determina a grandeza de seu valor.

Genericamente, quanto maior a força produtiva do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um artigo, tanto menor a massa de trabalho nele cristalizada, tanto menor o seu valor. Inversamente, quanto menor a força produtiva do trabalho, tanto maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo, tanto maior o seu valor.

A forma de valor ou o valor de troca

As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de valores de uso, como ferro, linho, trigo etc. Elas são só mercadorias devido à sua duplicidade, objetos de uso e simultaneamente portadores de valor. Aqui cabe acompanhar o desenvolvimento da expressão do valor contida na relação de valor das mercadorias, de sua forma mais simples até a ofuscante forma dinheiro.

A relação mais simples de valor é a relação de valor de uma mercadoria com uma única mercadoria de tipo diferente. Exemplo: 20 varas de linho = 1 casaco, ou: 20 varas de linho valem 1 casaco.

Os dois polos da expressão de valor: forma relativa de valor e forma equivalente

Duas mercadorias diferentes, em nosso exemplo linho e casaco, representam dois papéis distintos. O linho expressa seu valor no casaco, o casaco serve de material para essa expressão de valor. A primeira mercadoria encontra-se sob forma relativa de valor. A segunda, em forma equivalente.

Forma de Valor Total ou Desdobrada
20 varas de linho = 1 casaco ou = 10 libras de chá ou = 40 libras de café ou = 1 quarter de trigo ou = 2 onças de ouro ou = 1/2 tonelada de ferro ou = etc.

A forma relativa de valor desdobrada

O valor de uma mercadoria, do linho, por exemplo, é agora expresso em inumeráveis outras. Assim, aparece esse valor mesmo pela primeira vez verdadeiramente como gelatina de trabalho humano indiferenciado. Pois o trabalho que o gera é agora representado como trabalho equiparado a qualquer outro trabalho humano. Ao mesmo tempo, depreende-se que é indiferente ao valor mercantil a forma específica do valor de uso na qual ele se manifesta.

A forma relativa de valor desdobrada consiste numa soma de expressões de valor ou equações da primeira forma, como: 20 varas de linho = 1 casaco; 20 varas de linho = 10 libras de chá etc. Cada uma dessas equações contém, reciprocamente, a equação idêntica: 1 casaco = 20 varas de linho; 10 libras de chá = 20 varas de linho etc. Expressemos a relação recíproca implicitamente já contida na série, então obtemos:

Forma Geral de Valor

1 casaco
10 libras de chá
1 quarter de trigo                             =} 20 varas de linho
2 onças de ouro
etc. mercadoria

Caráter modificado da forma valor

Na forma de igual ao linho, todas as mercadorias aparecem agora não só qualitativamente iguais, como valores sobretudo, mas também como grandezas de valor quantitativamente comparáveis. Então, por exemplo, 10 libras de chá = 1 quarter de trigo.

A forma valor geral relativa do mundo das mercadorias imprime à mercadoria equivalente, excluída dele, ao linho, o caráter de equivalente geral. Sua própria forma natural é a figura de valor comum a esse mundo, o linho sendo, por isso, diretamente trocável por todas as outras mercadorias.

Transição da forma valor geral para a forma dinheiro

Uma mercadoria encontra-se na forma equivalente geral (forma III), porque e na medida em que é excluída por todas as demais mercadorias como equivalentes. E só a partir do momento em que essa exclusão se limita a um gênero específico de mercadorias que ele torna-se mercadoria dinheiro. Se substituímos, pois, na forma III, a mercadoria linho pela mercadoria ouro, obtemos:

Forma Dinheiro

20 varas de linho
1 casaco = 10 libras de chá
40 libras de café                                =} 2 onças de ouro
1 quarter de trigo
1/2 tonelada de ferro

O ouro só se confronta com outras mercadorias como dinheiro por já antes ter-se contraposto a elas como mercadoria. Pouco a pouco, passou a funcionar como equivalente geral. Tão logo conquistou o monopólio dessa posição, torna-se mercadoria dinheiro, e só a partir do momento em que já se converteu em mercadoria dinheiro a forma valor geral se transforma em forma dinheiro.

O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo

À primeira vista, a mercadoria parece uma coisa evidente. Analisando-a, vê-se que ela é uma coisa muito complicada, O misterioso da forma mercadoria consiste no fato de que ela reflete a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles, entre objetos. Isso é o fetichismo que adere aos produtos de trabalho, tão logo são produzidos como mercadorias.

Objetos de uso se tornam mercadorias apenas por serem produtos de trabalhos privados. O complexo desses trabalhos privados forma o trabalho social total. Como os produtores somente entram em contato social mediante a troca de seus produtos de trabalho, os trabalhos privados só atuam, de fato, como membros do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e, por meio dos mesmos, entre os produtores.

Somente a análise dos preços das mercadorias levou à determinação da grandeza do valor. É exatamente essa forma acabada — a forma dinheiro — do mundo das mercadorias que objetivamente vela, em vez de revelar, o caráter social dos trabalhos privados e, portanto, as relações sociais entre os produtores privados.

A figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob seu controle consciente e planejado.

Bibliografia:

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. O processo de produção do capital. São Paulo: Nova Cultural 1996. v.1 (Coleção Os Economistas).

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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