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Por Uma Outra Globalização: A Transição Em Marcha

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Resumo de Transição em Marcha – capítulo 6 de Por Uma Outra Globalização de Milton Santos. Boa leitura!

Introdução

Não se pode dizer que a globalização seja semelhante às ondas anteriores porque as condições de sua realização mudaram radicalmente. Todavia, para entender o processo que conduziu à globalização atual, é necessário levar em conta dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado da política. Nunca houve separação entre as duas coisas.

Cultura popular, período popular

O processo de globalização tem influência sobre todos os aspectos da existência. Ele não se verifica de modo homogêneo, e o próprio fato de que seja criador de escassez é um dos motivos da impossibilidade da homogeneização.

Uma das consequências de tal evolução é a nova significação da cultura popular, tornada capaz de rivalizar com a cultura de massas. Outra é a produção das condições necessárias à reemergência das próprias massas, apontando para o surgimento de um novo período histórico, a que chamamos de período demográfico ou popular (M. Santos, Espaço e sociedade, 1979).

Cultura de massas, cultura popular

Um esquema grosseiro mostraria, em toda a parte, a presença de uma cultura de massas buscando homogeneizar e impor-se sobre a cultura popular. Mas há também a possibilidade de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando, por exemplo, ela se difunde mediante o uso dos instrumentos que na origem são próprios da cultura de massas. Os “de baixo” não dispõem de meios para participar plenamente da cultura moderna de massas. Mas sua cultura, por ser baseada no território, no trabalho e no cotidiano, ganha a força necessária para deformar o impacto da cultura de massas.

A precedência do homem e o período popular

Uma outra globalização supõe uma mudança radical das condições atuais, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem.

Nas presentes circunstâncias, com a prevalência do dinheiro em estado puro como motor primeiro e último das ações, o homem acaba por ser considerado um elemento residual. A primazia do homem supõe que ele estará no centro das preocupações do mundo. Dessa forma, estarão assegurados o império da compaixão nas relações interpessoais e o estímulo à solidariedade social. Tal esquema conduziria ao estabelecimento de novas relações internacionais – a vontade de ser potência não seria mais um norte para o comportamento dos estados, e a ideia de mercado interno será uma preocupação central.

Ocaso do projeto nacional?

Os projetos das grandes empresas, impostos pela tirania das finanças e trombeteados pela mídia, acabam guiando a evolução dos países. Daí a produção de desequilíbrios e distorções estruturais, acarretando mais fragmentação e desigualdade.

A dissolução das ideologias

Todavia, o que agora estamos assistindo em toda a parte é uma tendência à dissolução dessas ideologias no confronto com a experiência vivida dos povos e dos indivíduos. O próprio credo financeiro aparece menos aceitável e, a partir de sua contestação, outros elementos da ideologia do pensamento único perdem força.

A pertinência da utopia

É somente a partir dessa constatação que se torna possível retornar a ideia de utopia e de projeto. Este será o resultado da conjugação de dois tipos de valores. De um lado, estão os valores fundamentais, como a liberdade, a dignidade, a felicidade; de outro lado, surgem os valores contingentes, devidos à história atual.

Lembramos, também, que um dos elementos da presente forma de globalização é a centralidade do consumo. Mas as atuais relações instáveis de trabalho, a expansão de desemprego e a baixa do salário médio constituem um contraste em relação à multiplicação dos objetos e serviços. É por meio desse conjunto de movimentos que se reconhece que os limites da tolerância às ideologias são ultrapassados, o que permite a ampliação da consciência.

Outros usos possíveis para as técnicas atuais

A materialidade que o mundo da globalização está recriando permite um uso radicalmente diferente daquele que era o da base material da industrialização e do imperialismo.

A técnica das máquinas exigia investimentos maciços e um uso limitado, direcionado, da inteligência e da criatividade. Já os novos instrumentos abrem possibilidades para sua disseminação no corpo social, superando as clivagens socioeconômicas preexistentes. Aqui, a produção do novo e o uso e a difusão do novo deixam de ser monopolizados por um capital cada vez mais concentrado para pertencer ao domínio do maior número. Desse modo, a técnica pode voltar a ser o resultado do encontro do engenho humano com um pedaço determinado da natureza.

Um novo mundo possível

A partir dessas metamorfoses, pode-se pensar na produção local de um entendimento progressivo do mundo e do lugar, com a produção indígena de imagens, discursos, filosofias, junto à elaboração de um novo ethos e de novas ideologias e novas crenças políticas.

A história apenas começa

A história apenas começa. O que até então se chamava de história universal era a visão pretensiosa de um país ou continente sobre os outros, considerados bárbaros ou irrelevantes.

A humanidade como um bloco revolucionário

Somente agora a humanidade pode identificar-se como um todo e reconhecer sua unidade, quando faz sua entrada na cena histórica como um bloco, ainda que as condições sejam diversas. Por isso, a era da globalização é exigente de uma interpretação sistêmica cuidadosa.

A denominação de era da inteligência poderia ter fundamento neste fato concreto: os materiais hoje responsáveis pelas realizações preponderantes são cada vez mais objetos materiais manufaturados e não mais matérias-primas naturais. É o homem quem fabrica a natureza, ou lhe atribui valor e sentido. Por isso, tudo o que existe constitui uma perspectiva de valor. Todos os lugares fazem parte da história.

A nova consciência de ser mundo

Graças aos progressos fulminantes da informação, o outro, isto é, o resto da humanidade, parece estar próximo. Assim, o cotidiano de cada um se enriquece, pela experiência própria e pela do vizinho. Funda-se, de fato, um mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado.

Ousamos, desse modo, pensar que a história do homem sobre a Terra dispõe afinal das condições objetivas, materiais e intelectuais, para superar o endeusamento do dinheiro e dos objetos técnicos e enfrentar o começo de uma nova trajetória.

A grande mutação contemporânea

A globalização atual não é irreversível. A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano.

Bibliografia:

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: BestBolso; 2011.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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