Por Uma Outra Globalização: Uma Globalização Perversa

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Resumo de Uma Globalização Perversa – capítulo 3 de Por Uma Outra Globalização de Milton Santos. Boa leitura!

Nos últimos anos do século XX o mundo torna-se unificado em virtude das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana mundializada. Esta, entretanto, impõe-se à maior parte da humanidade como uma globalização perversa.

A tirania da informação e do dinheiro e o atual sistema ideológico

Entre os fatores constitutivos da globalização,

encontram-se a forma como a informação é oferecida e a emergência do dinheiro como motor da vida econômica e social.

A violência da informação Nas condições atuais, as técnicas da informação são utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. O que é transmitido à maioria da humanidade é uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Tal informação se apresenta, então, como ideologia. O evento já é entregue maquiado à pessoa, e é por isso que se produzem no mundo de hoje fábulas e mitos. Sem elas, não seria possível a violência do dinheiro.

A violência do dinheiro Nas condições atuais de economia internacional, o financeiro ganha uma espécie de autonomia. E a finança move a economia e a deforma, levando seus tentáculos a todos os aspectos da vida. Por isso

, é lícito falar de tirania do dinheiro.

Competitividade, consumo, confusão dos espíritos, globaritarismo

Globalitarismos e totalitarismos Como as técnicas hegemônicas atuais são, todas elas, filhas da ciência, e como sua utilização se dá

 ao serviço do mercado, esse amálgama produz um ideário da técnica e do mercado que é santificado pela ciência, considerada, ela própria, infalível. São essas as condições para a difusão de um pensamento e de uma prática totalitárias. O totalitarismo não é limitado à esfera do trabalho, escorrendo para a esfera política e das relações interpessoais e invadindo o próprio mundo da pesquisa e do ensino universitários, mediante um cerco às ideias.

A violência estrutural e a perversidade sistêmica

Fala-se, hoje, muito em violência como uma situação característica do nosso tempo. Todavia, dentre as violências de que se fala, a atenção é menos voltada para a violência estrutural. Ela resulta das manifestações conjuntas do dinheiro em estado puro, da competitividade em estado puro e da potência em estado puro.

O dinheiro em estado puro Com a globalização impõe-se uma nova noção de riqueza, de prosperidade e de equilíbrio macroeconômico,

conceitos fundados no dinheiro em estado puro e aos quais todas as economias nacionais são chamadas a se adaptar. O consumo, tornado um denominador comum para todos os indivíduos, atribui um papel central ao dinheiro nas suas diferentes manifestações. O novo dinheiro torna-se onipresente. Fundado numa ideologia, esse dinheiro sem medida se torna a medida geral, reforçando a vocação para considerar a acumulação como uma meta em si mesma.

A competitividade em estado puro A necessidade de capitalização conduz a adotar como regra a necessidade de competir em todos os planos. Num mundo globalizado, regiões e cidades são chamadas a competir e a competitividade se torna também uma regra da convivência entre as pessoas.

A potência em estado puro Para exercer a competitividade em estado puro e obter o dinheiro em estado puro, o poder deve ser

 também exercido em estado puro. O uso da força acaba se tornando uma necessidade. Isso vem acompanhado pela desnecessidade de responsabilidade perante o outro.

A perversidade sistêmica No período atual, a perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados para se estabelecer como um sistema. A causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição da competitividade como regra absoluta, que escorre sobre todo o edifício social. O outro, seja ele empresa,

instituição ou indivíduo, aparece como um obstáculo e deve ser removido. Estas são as razões pelas quais a vida normal de todos os dias está sujeita a uma violência estrutural que, aliás, é a mãe de todas as outras violências.

Da política dos Estados à política das empresas

Sistema técnicos, sistemas filosóficos No século XVIII, aconteceram dois fenômenos extremamente importantes. O nascimento da

 técnica das máquinas (e o reforço da condição técnica na vida social e individual) e as novas concepções sobre o homem se corporificam com as ideias filosóficas que se iriam tornar forças da política. Foi estabelecida, assim, a possibilidade de enriquecer moralmente o indivíduo.

Tecnociência, globalização e história sem sentido O período atual tem como uma das bases esse casamento entre ciência e técnica, essa tecnociência. Como, frequentemente, a ciência passa a produzir aquilo que interessa ao mercado, o progresso técnico e científico não é sempre

 um progresso moral. O mundo se torna fluido, graças à informação, mas também ao dinheiro. Todos os contextos se intrometem e superpõem, corporificando um contexto global, no qual as fronteiras se tornam porosas para o dinheiro e para a informação.

O discurso que ouvimos todos os dias, para nos fazer crer que deve haver menos Estado, vale-se dessa mencionada porosidade. Não é que o Estado se ausente ou se torne menor. Ele apenas se omite quanto ao interesse das populações e se torna mais forte ao serviço da economia dominante.

Da política dos Estados à política das empresas

As empresas globais e a morte da política Agora se fala muito num terceiro setor, em que as empresas privadas assumiriam um trabalho de assistência social antes deferido ao poder público. Caber-lhes-ia, desse

 modo, escolher os beneficiários. Essa “política” das empresas equivale à decretação de morte da Política. A política, por definição, é ampla e supõe uma visão de conjunto. Quem não tem visão de conjunto não chega a ser político. O que se pretende é encontrar formas de proteção a certos pobres e certos ricos, escolhidos segundo os interesses dos doadores.

Em meio século, três definições da pobreza

Os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas

 

 de pobreza e, paralelamente, três formas de dívida social, no último meio século.

A pobreza “incluída” Antes, as situações de pobreza podiam ser definidas como reveladoras de uma pobreza acidental, vista como desadaptação local aos processos mais gerais de mudança. As soluções ao problema eram privadas, assistencialistas, locais. Em um mundo onde o consumo ainda não constituía um nexo social obrigatório, a pobreza era menos discriminatória. Daí poder-se falar de pobres incluídos.

A marginalidade Num segundo momento, a pobreza é identificada como uma doença da civilização, cuja produção acompanha o próprio processo econômico. A ampliação do consumo dá à pobreza novos conteúdos e novas definições. Além da pobreza absoluta, cria-se e recria-se uma pobreza relativa, que leva a classificar os indivíduos pela sua capacidade de consumir, e pela forma como o fazem. Nesse segundo momento, os pobres eram chamados de marginais. Para superar tal situação, torna-se, generalizada a preocupação com o fenômeno da pobreza, o que leva a uma busca de soluções de Estado para esse problema, considerado grave mas não insolúvel. Havia uma certa vergonha de não enfrentar a questão.

A pobreza estrutural globalizada O último período, no qual nos encontramos, revela uma pobreza estrutural globalizada. Nessa última fase, os pobres são excluídos. É uma pobreza quase sem remédio, trazida pela expansão do desemprego e , também, pela redução do valor do trabalho.

O que fazer com a soberania

O Estado altera suas regras e feições num jogo combinado de influências externas e realidades internas. Mas não é verdade que a globalização impeça a constituição de um projeto nacional. Sem isso, os governos ficam à mercê de exigências externas. Cremos, todavia, que sempre é tempo de corrigir os rumos equivocados e, mesmo num mundo globalizado, fazer triunfar os interesses da nação.

Bibliografia:

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: BestBolso; 2011.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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