Por Uma Outra Globalização – A Produção da Globalização

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Resumo de A Produção da Globalização – capítulo 2 de Por Uma Outra Globalização de Milton Santos. Boa leitura!

INTRODUÇÃO

A globalização é o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Para entendê-la, há dois elementos fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o estado da política.

No fim do século XX, produziu-se um sistema de técnicas, presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária.

Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes. Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história, representado pela mais-valia globalizada. Um mercado global utilizando esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa.

A UNICIDADE TÉCNICA

O desenvolvimento da história vai de par com o desenvolvimento das técnicas. A cada evolução técnica, uma nova etapa histórica se torna possível. Nunca aparece uma técnica isolada; o que se instala são grupos de técnicas. A foice, a enxada, o ancinho constituem, por exemplo, num dado momento, uma família de técnicas.

Cada sistema técnico representa uma época. O que é representativo do sistema de técnicas atual é a chegada da técnica da informação, por meio da cibernética, da informática, da eletrônica. Ela vai permitir duas grandes coisas: a primeira é que as diversas técnicas existentes passam a se comunicar entre elas. Por outro lado, ela permite a convergência dos momentos, assegurando a simultaneidade das ações e, por conseguinte, acelerando o processo histórico.

O sistema técnico dominante no mundo de hoje é invasor, busca espalhar-se, na produção e no território. Pode não o conseguir, mas é essa sua vocação, que é também fundamento da ação dos atores hegemônicos, como, por exemplo, as empresas globais, que funcionam a partir de uma fragmentação, já que um pedaço da produção pode ser feita na Tunísia, outro ainda no Paraguai. É a partir da unicidade das técnicas que surge a possibilidade de existir uma finança universal, principal responsável pela imposição a todo o globo de uma mais-valia mundial.

A CONVERGÊNCIA DOS MOMENTOS

A unicidade do tempo não é apenas o resultado de que, nos mais diversos lugares, a hora do relógio é a mesma. Tomada como fenômeno físico, a percepção do tempo real quer dizer que podemos usar esses relógios múltiplos de maneira uniforme. A operação planetária das grandes empresas globais vai revolucionar o mundo das finanças, permitindo ao respectivo mercado que funcione em diversos lugares durante o dia inteiro.

Com essa grande mudança na história, tornamo-nos capazes de ter conhecimento do que é o acontecer do outro. Essa é a grande novidade – a unicidade do tempo ou convergência dos momentos. Mas a informação instantânea e globalizada por enquanto não é generalizada e veraz porque atualmente intermediada pelas grandes empresas de informação.

Se a técnica cria aparentemente para todos a possibilidade da fluidez, quem, de fato, utiliza em seu favor esse tempo real? Essa discussão leva-nos a outra, ao tomarmos em conta a emergência de um novo fator determinante da história, representado pelo que aqui estamos denominando de motor único.

O MOTOR ÚNICO

Havia, com o imperialismo, diversos motores, cada qual com sua força e alcance próprios: o motor francês, o motor alemão, o motor português, etc., que eram todos motores do capitalismo, mas empurravam as máquinas e os homens segundo ritmos e combinações diferentes. Hoje haveria um motor único que é a mais-valia universal. Esta tornou-se possível porque a partir de agora a produção se dá à escala mundial, por intermédio de empresas mundiais, que competem entre si segundo uma concorrência como jamais existiu.

Pretendemos que a história, agora, seja movida por esse motor único. Cabe, assim, indagar qual seria a sua natureza. Que é essa mais-valia considerada ao nível global? Ela existe e se impõe como coisa real, embora não seja propriamente mensurável, já que está sempre evoluindo. Ela é “mundial” porque entretida pelas empresas globais que se valem dos progressos científicos e técnicos disponíveis no mundo e pedem, todos os dias, mais progresso científico e técnico.

A COGNOSCIBILIDADE DO PLANETA

O período histórico atual vai permitir o que nenhum outro período ofereceu ao homem, isto é, a possibilidade de conhecer o planeta extensiva e aprofundadamente.

A partir de agora é possível não apenas utilizar o que encontra na natureza: podemos conceber os objetos que desejamos utilizar e então produzimos a matéria-prima indispensável à sua fabricação. Sem isso não teria sido possível fazer os satélites que fotografam o planeta a intervalos regulares, permitindo uma visão mais completa e detalhada da Terra. Com a globalização, estamos mais perto de construir uma filosofia das técnicas e das ações correlatas, que seja também uma forma de conhecimento concreto do mundo tomado como um todo e das particularidades dos lugares, que incluem condições físicas, naturais ou artificiais e condições políticas. As empresas, na busca da mais-valia desejada, valorizam diferentemente as localizações. A cognoscibilidade do planeta constitui um dado essencial à operação das empresas e à produção do sistema histórico atual.

UM PERÍODO QUE É UMA CRISE

A história do capitalismo pode ser dividida em pedaços de tempo marcados por certa coerência entre as suas variáveis significativas, que evoluem diferentemente, mas dentro de um sistema. Não podemos esquecer que os períodos são, também, antecedidos e sucedidos por crises, isto é, momentos em que a ordem estabelecida entre as variáveis é comprometida. Essa foi a evolução comum a toda a história do capitalismo, até recentemente. O período atual escapa a essa característica porque ele é a superposição entre período e crise, revelando características de ambas essas situações.

Como período, as suas variáveis características instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indiretamente. Daí a denominação de globalização. Como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente chocando-se e exigindo novas definições e novos arranjos. Trata-se, porém, de uma crise persistente dentro de um período com características duradouras, mesmo se novos contornos aparecem.

Este período e esta crise são diferentes daqueles do passado, porque os dados motores e os respectivos suportes, que constituem fatores de mudança, não se instalam gradativamente como antes, nem são o privilégio de alguns continentes e países, como outrora. Tais fatores dão-se concomitantemente e se realizam com muita força em toda a parte.

Tirania do dinheiro e tirania da informação são os pilares da produção da história atual do capitalismo globalizado. Sem o controle dos espíritos seria impossível a regulação pelas finanças. Daí o papel avassalador do sistema financeiro e a permissividade do comportamento dos atores hegemônicos, que agem sem contrapartida, levando ao aprofundamento da situação, isto é, da crise.

O mesmo sistema ideológico que justifica o processo de globalização acaba, também, por impor uma certa visão da crise e aceitação dos remédios sugeridos. Em virtude disso, todos os países, lugares e pessoas passam a se comportar como se tal “crise” fosse a mesma para todos e como se a receita para afastá-la devesse ser geralmente a mesma. Porém, a única crise que os responsáveis desejam afastar é a crise financeira e não qualquer outra. Aí está, na verdade, uma causa para mais aprofundamento da crise real – econômica, social, política, moral – que caracteriza o nosso tempo.

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Bibliografia:

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: BestBolso; 2011.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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