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As Etapas do Pensamento Sociológico: Conclusão

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Resumo de Etapas do Pensamento Sociológico – Conclusão. Assim terminamos todos os capítulos da obra de Raymond Aron. Boa leitura!

Émile Durkheim, Vilfredo Pareto e Max Weber pertencem a três nações diferentes, e ao mesmo período histórico. Sua formação intelectual não foi a mesma, e contudo os três se esforçaram por promover a mesma disciplina.

O tema central dos três autores foi o das relações entre a ciência e a religião. Para Durkheim, a ciência permite compreender a religião e conceber o surgimento de novas crenças. Para Pareto, a propensão à religião é eterna. Weber, por sua vez, viu de maneira patética a contradição entre uma sociedade que se racionaliza e as necessidades da fé. Não há mais lugar para os encantos das religiões do passado. A fé deve, portanto, retirar-se para a intimidade da consciência, e o homem se divide entre uma atividade profissional cada vez mais parcial e racionalizada e a aspiração a uma visão global do mundo, e a certezas definitivas.

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Podem-se comparar também estes três pensadores examinando a interpretação que deram da sociedade em que viviam.

Para Durkheim, a crise das sociedades contemporâneas é uma crise moral, cujo fundamento pode ser encontrado na estrutura da sociedade. Pode-se classificar a maior parte dos sociólogos com base no sentido que deram às lutas sociais. Durkheim pensa que a sociedade é uma unidade baseada num consenso. Os conflitos não constituem a mola do movimento histórico de toda vida em comum, mas a marca de um desregramento. As sociedades modernas são definidas pelo interesse predominante associado à atividade econômica, pela diferenciação extrema das funções e das pessoas e, portanto, pelo risco de uma desagregação do consenso, sem o qual não é possível haver ordem social.

Dukheim, porém, não duvida de que os valores sagrados da nossa época sejam a dignidade humana, a liberdade do indivíduo, o julgamento autônomo e a crítica. Seu pensamento justifica a existência de duas interpretações contraditórias. Se o princípio e o objeto das obrigações e das crenças morais e religiosas é a sociedade, Durkheim pode ser incluído na linha dos pensadores que postularam o primado da coletividade sobre o indivíduo. Mas se aceitarmos, ao contrário, que os valores supremos da nossa época são o individualismo e o racionalismo, Durkheim aparece como herdeiro da Filosofia do Iluminismo.

Pareto e Weber podem ser situados mais facilmente do que Durkheim. Basta analisá-los com relação a Marx, isto é, com relação a um autor que leram muito e criticaram.

Pareto e Weber rejeitam a crítica marxista da economia capitalista. Nenhum dos dois nega que num regime capitalista haja uma classe privilegiada. Não afirmam que o regime capitalista seja justo, ou o único possível. Ambos tendem a acreditar que este regime evoluirá no sentido do socialismo, mas os dois se recusam a aceitar a teoria da mais-valia e da exploração, e negam que uma economia socialista seja fundamentalmente diferente de uma economia capitalista, no que se refere à organização da produção e à distribuição da renda.

Pareto mostra que uma economia socialista se assemelharia a uma economia capitalista, contando ainda com defeitos suplementares. Uma economia baseada na propriedade coletiva dos meios de produção e privada dos mecanismos do mercado e da concorrência seria uma economia burocratizada, com os trabalhadores submetidos a uma disciplina pelo menos tão opressiva quanto a das empresas capitalistas. Seria também menos eficaz, do ponto de vista do desenvolvimento das riquezas.

A segunda forma de refutação consiste em apresentar as esperanças revolucionárias como a expressão de resíduos permanentes, ou de sonhos metafísicos eternos. Na versão corrente do marxismo, as contradições do capitalismo provocam a organização do proletariado em classe, e este realiza a obra exigida pela Razão histórica. Sugere assim uma espécie de psicologia racional segundo a qual os indivíduos ou os grupos agem com base nos seus interesses.

Pareto, e de certo modo também Max Weber, afirmam que os movimentos sociais, entre eles o socialismo, não se inspiram na consciência dos interesses coletivos e não representam um produto da Razão histórica, mas constituem a manifestação de necessidades afetivas ou religiosas tão duradouras quanto a própria humanidade. Max Weber chamou sua sociologia das religiões de “refutação empírica do materialismo histórico”. Ela mostra, de fato, que a atitude de certos grupos com relação à vida econômica pode ser determinada por concepções religiosas.

Para Pareto, se os homens agissem logicamente sua conduta seria determinada efetivamente pela busca de lucros ou do poder. Na realidade, a história não evolui no sentido de uma conclusão. As flutuações da força de uma classe de resíduos produzem as fases da história, sem que nunca se possam imaginar um ponto de chegada e uma estabilização definitiva.

Para estabilizar e moralizar as sociedades modernas, Durkheim preconizava uma reconstituição das corporações profissionais. Pareto anunciava a cristalização burocrática e a ascensão ao poder de elites violentas que sucederiam as raposas da plutocracia. Já Max Weber profetizava com pessimismo a expansão gradual da organização burocrática.

Destes três autores, Durkheim é aquele cujas sugestões foram menos apoiadas pelos acontecimentos. Em nenhum dos países de economia moderna há lugar para essas corporações. Nem na Rússia soviética, porque o princípio de toda autoridade e de toda moralidade deve ser o Partido e o Estado confundidos; no Ocidente porque seria necessário ter excepcional acuidade de visão a fim de perceber o menor traço de autoridade moral, aceita ou reconhecida, nas organizações profissionais de assalariados e de empresários. Em compensação, Pareto não errou ao anunciar a ascensão de elites violentas; como Weber também não se enganou ao prever a expansão da burocracia. Se estes dois fenômenos não esgotam toda a realidade social moderna, sua combinação é, seguramente, uma das características do nosso tempo.

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Pareto e Max Weber (de modo explícito), como também Durkheim (implicitamente), enunciaram a concepção da sociologia como a ciência da ação social. Concebida desta maneira, a sociologia elimina a explicação naturalista excluindo que se possa explicar a ação social a partir da hereditariedade ou do meio.

Ciência da ação humana, a sociologia é, ao mesmo tempo, compreensiva e explicativa. Compreensiva, identifica a racionalidade implícita das condutas individuais ou coletivas; explicativa, estabelece as regularidades e insere as condutas parciais em conjuntos que lhes dão um sentido.

Durkheim, Pareto e Weber são os últimos grandes sociólogos a elaborar doutrinas de sociologia histórica, isto é, sínteses globais que comportam simultaneamente uma análise microscópica da ação humana, uma interpretação da época moderna e uma visão do desenvolvimento histórico a longo prazo. Estes diferentes elementos estão hoje dissociados.

Para estudar a sociologia contemporânea, seria necessário analisar a teoria abstrata da conduta social, encontrar os conceitos fundamentais utilizados pelos sociólogos e examinar o desenvolvimento da investigação empírica em diferentes setores. Os sociólogos empíricos do Ocidente se recusam a fazer interpretações históricas da época moderna, argumentando que elas ultrapassam as possibilidades da ciência. No Leste, estas interpretações históricas são anteriores a qualquer investigação.

Mas os marxistas da Europa oriental se converteram à pesquisa empírica. E é possível, por outro lado, que estas pesquisas contenham uma interpretação da sociedade moderna. Ei-nos aqui, retornando à Introdução deste livro.

Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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