As Etapas do Pensamento Sociológico: Vilfredo Pareto – A Ação Não-Lógica e a Ciência

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Resumo de Etapas do Pensamento Sociológico – A Ação Não-Lógica e a Ciência. Vilfredo Pareto apresentado por Raymond Aron. Boa leitura!

A ação não-lógica e a ciência

A compreensão do sistema de Pareto exige uma interpretação rigorosa dos conceitos de ação lógica e ação não-lógica.

O engenheiro que constrói uma ponte estudou a resistência dos materiais e tem condições de calcular a relação entre estes meios e os fins propostos. Há uma correspondência entre a relação meios-fim, tal como ele a concebe, e a relação meios-fim, tal como ocorre objetivamente na realidade. A ligação lógica entre os meios e o fim existe na consciência do ator e na realidade objetiva, e as duas relações, objetiva e subjetiva, se correspondem mutuamente.

Para que um comportamento seja lógico, é preciso que a relação meios-fim na realidade objetiva corresponda à relação meios-fim na consciência do ator. Pertencem à categoria das ações não-lógicas as que subjetiva ou objetivamente não apresentem um vínculo lógico. Pode-se elaborar deste modo um quadro das ações humanas:

Vilfredo Pareto - As Etapas do Pensamento Sociológico - Raymond Aron

Qual a significação de cada um destes gêneros de ações não-lógicas?

O gênero “não-não” significa que os meios não estão associados aos fins, nem na realidade, nem na consciência.Qual a significação de cada um destes gêneros de ações não-lógicas?

No segundo gênero, o ator imagina, erroneamente, que os meios de que se utiliza são de molde que provoquem o fim desejado. Neste caso, há subjetivamente uma relação meios-fim, embora, objetivamente, tal relação seja inexistente.

O terceiro gênero é o das ações que tem um resultado vinculado logicamente aos meios empregados, mas sem que o ator conceba a relação meios-fim.

O quarto gênero é o dos atos que tem resultado associado logicamente aos meios empregados e cujo autor, subjetivamente, concebe uma certa relação entre os meios e os fins, sem que os resultados objetivos correspondam aos resultados subjetivos. Assim, os revolucionários bolchevistas, depois de realizar uma revolução pela violência, são levados a estabelecer um regime autoritário. Neste caso, há uma relação objetiva entre a conduta e os seus resultados, e uma relação subjetiva entre a utopia de uma sociedade sem classes e os atos revolucionários. Há uma discordância objetiva entre os resultados objetivos e os resultados subjetivos.

Esta classificação dos tipos de ação não deixa de criar algumas dificuldades: em que medida todas as ações humanas podem ser analisadas tomando como referência só a relação meios-fim? Se o caráter lógico e não-lógico se aplica unicamente à relação entre meios e fins, estes últimos podem deixar de ser não-lógicos? O fato de que a escolha dos fins não possa ser lógica não é uma consequência da definição do caráter lógico das ações?

Assim, Pareto define a sociologia em referência e oposição à economia. A economia considera essencialmente as ações lógicas, enquanto a sociologia trata sobretudo das ações não-lógicas.

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O objetivo do sociólogo, ao estudar as condutas não-lógicas, é a verdade, não a utilidade. O estudo lógico-experimental das condutas não-lógicas tem por objetivo exclusivo a verdade, e não se deve criticá-lo por não ser útil.

Há uma oposição marcante com a concepção de Durkheim que escreveu que se a sociologia não permitisse aprimorar a sociedade, não teria nenhum valor. Aos olhos de Pareto, uma proposição deste tipo é uma confusão entre o objeto científico, que é exclusivamente a verdade, e o objeto da ação social, que é a utilidade.

A ciência lógico-experimental tem o dever de afastar todas as noções extra ou metaempíricas. As discussões científicas devem referir-se sempre à realidade, e não ao sentido que damos às palavras.

A ciência implica uma atividade do espírito que é uma recriação, cujo caráter primordial é a simplificação. Ela observa e retém certos aspectos de determinados fenômenos; em seguida, estabelece relações entre os fenômenos cobertos por tais conceitos, esforçando-se progressivamente por combinar suas abordagens simplificadas, para recompor a realidade complexa. Nunca encontraremos a realidade inteira, em toda a sua complexidade.

Para Pareto, a ciência é lógico-experimental. “Lógico” significa que é legítimo deduzir de definições enunciadas, ou de relações observadas, as consequências resultantes de premissas. O adjetivo “experimental” abrange ao mesmo tempo a observação e a experimentação. A ciência é experimental porque se aplica ao real e se refere a ele como origem e critério de todas as proposições. Uma proposição que não comporta demonstração ou refutação pela experiência não é científica.

Em suma, a ciência lógico-experimental tem por objetivo descobrir as relações regulares existentes entre os fenômenos, isto é, na linguagem de Pareto, as uniformidades experimentais.

A ciência lógico-experimental sendo assim definida em suas grandes linhas, coloca-se logicamente o problema de ligar a concepção das ações lógicas e não-lógicas a esta definição.

As ações lógicas são em sua maioria determinadas pelo saber científico, isto é, de acordo com uniformidades estabelecidas graças à ciência lógico-experimental. Ora, como este paralelismo poderia ser assegurado senão porque conhecemos as consequências estabelecidas pela ciência lógico-experimental?

Subsiste uma solidariedade entre a concepção das ações lógicas e a concepção da ciência lógico-experimental. O progresso da ciência permite ampliar progressivamente a esfera das condutas humanas que podemos considerar lógicas.

Se a condição para que uma conduta seja lógica é a de podermos prever as consequências dos nossos atos, e de podermos determinar pelo raciocínio os objetivos que pretendemos alcançar, e se a ciência não permite determinar os objetivos ou conhecer as consequências dos nossos atos, a não ser em domínios limitados, a maior parte da conduta humana será necessariamente não-lógica.

Compreende-se, pois, por que Pareto é insuportável, e por que deseja sê-lo. A concepção da ciência experimental de Pareto reduz muito as ambições da sociologia. Sua primeira tese é a de que todos os homens pretendem dar uma aparência lógica a condutas que não tem substância; e sua segunda tese propõe como objetivo da sociologia a demonstração de que o comportamento humano é em grande parte não-lógico.

O paralelo entre a concepção da ciência e a concepção da ações lógicas e não-lógicas, em Pareto, nos lembra que a ciência não determina logicamente objetivos. Não há uma solução científica para o problema da ação. A ciência não pode ir além da indicação dos meios eficazes para atingir objetivos; a determinação dos objetivos não pertence ao seu domínio. Em última análise, não há solução científica para o problema da conduta individual, e não há solução científica para o problema da organização social.

Invista mo Resumo da Obra

Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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