As Etapas do Pensamento Sociológico: Introdução da Segunda Parte

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Resumo de Etapas do Pensamento Sociológico – 2ª Introdução. Assim terminamos todos os capítulos da obra de Raymond Aron. Boa leitura!

Esta segunda parte é dedicada ao estudo das ideias principais de três sociólogos: Émile Durkheim, Vilfredo Pareto e Max Weber.

Comte, Marx e Tocqueville formaram suas ideias na primeira metade do século XIX. A sociedade moderna era definida por eles de maneira diversa. Para Comte a sociedade moderna ou industrial se caracterizava pelo desaparecimento das estruturas feudais e teológicas. O problema principal da reforma social era o do consenso; tratava-se de restabelecer a homogeneidade de convicções religiosas e morais, sem a qual nenhuma sociedade pode ser estável.

Para Marx, o dado fundamental da sociedade do seu tempo eram as contradições internas da sociedade capitalista. Havia pelo menos duas contradições: a contradição entre as forças e as relações de produção; a contradição entre as classes sociais, condenadas à hostilidade enquanto não tivesse desaparecido a propriedade privada dos instrumentos de produção.

Para Tocqueville, a sociedade moderna era definida pelo seu caráter democrático, que para ele queria dizer a atenuação das distinções de classes, ou de estado, a tendência à igualdade progressiva da condição social. Mas esta sociedade democrática podia ser liberal (governada por instituições representativas, conservadoras das liberdades intelectuais) ou despótica (indivíduos confundidos na igualdade da impotência e da servidão).

Em outras palavras, o método que utilizei na primeira parte deste livro consistiu em identificar os temas fundamentais de cada autor, em mostrar como cada um desses temas resultava de uma interpretação pessoal da mesma realidade social que os três procuravam compreender. Nesta segunda parte, usarei o mesmo método com mais facilidade ainda, pois É. Durkheim, V. Pareto e M. Weber pertencem à mesma geração, o que não era o caso de Auguste Comte, Karl Marx e Alexis de Tocqueville.

Quando os três autores estavam vivos, a Europa gozava de paz relativa. As guerras do século XIX, entre 1815 e 1914, foram curtas e limitadas. A despeito da paz aparente, estes três autores acreditavam que as sociedade estavam atravessando uma fase de profunda mutação.

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O tema fundamental da reflexão destes autores era o das relações entre a religião e a ciência. Os três, por caminhos diferentes, chegaram à ideia de Comte de que as sociedades só podem manter sua coerência por meio de crenças comuns. Constataram também que as crenças comuns de ordem transcendente foram abaladas pelo desenvolvimento do pensamento científico. De um certo modo, todos os três estavam persuadidos dessa contradição, mas reconheciam a necessidade, para a estabilidade social, dessas crenças religiosas sujeitas à erosão pelos progressos científicos. Este problema fundamental encontra expressão diferente em cada um deles.

Como sociólogo, Durkheim pensava constatar que a religião tradicional não atendia mais às exigências daquilo a que chamava de espírito científico. Por outro lado, como bom discípulo de Comte, considerava que uma sociedade precisa de consenso, e que este só pode ser estabelecido por crenças absolutas. Concluía assim que era necessário instaurar uma moral inspirada no espírito científico. A crise da sociedade moderna lhe parecia provocada pela não-substituição das morais tradicionais, baseadas nas religiões. A sociologia deveria servir para fundamentar e reconstituir uma ética que atendesse às exigências do espírito científico.

Uma contradição análoga aparece na obra de Pareto. Este afirmativa de que só as proposições obtidas pelo método lógico-experimental são científicas; e que todas as outras, em particular as de ordem moral, metafísica ou religiosa, não tem valor de verdade. Contudo, Pareto tem muita consciência de que não é a ciência que determina a ação dos homens. Há portanto, para o sociólogo, uma contradição entre a exigência de rigor científico na análise da sociedade e a convicção de que as proposições científicas não bastam para unir os homens, e toda sociedade é sempre mantida na sua coerência e ordem por crenças ultra, infra e suprarracionais.

Um tema análogo aparece em Max Weber. A sociedade moderna, como ele a descreve, está em vias de assumir uma organização cada vez mais burocrática e racional. Quanto mais se impõe a modernidade, mais se expande a organização anônima, burocrática, racional. O homem de profissão está condenado a exercer uma função social estreita, dentro de conjuntos vastos e anônimos, sem a possibilidade de desenvolvimento total da personalidade, que era concebível em outras épocas.

Max Weber temia que a sociedade moderna, burocrática e racional, contribuísse para sufocar o que a seus olhos tornava a vida digna de ser vivida, isto é, a escolha pessoal, a consciência da responsabilidade, a ação, a fé.

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Nos três autores citados encontramos uma reflexão sobre as relações entre ciência e religião, com base na exigência do pensamento científico e na exigência social de estabilidade ou de consenso.

Esse tema explica algumas das ideias que os aproximam. Concebe-se assim que eles tenham simultaneamente ultrapassado a psicologia do comportamento e as motivações estritamente econômicas. A convicção comum de que as sociedades sustentam pelas crenças coletivas impede-os de fato de se satisfazerem com uma explicação das condutas que fosse “do exterior”, que abstraísse o que se passa na consciência. Da mesma forma, o reconhecimento do fato religioso como o que comanda a ordem de todas as coletividades, contradiz para os três a explicação através da racionalidade egoísta dada pelos economistas, quando procuram interpretar os atos humanos por meio de cálculos de interesses.

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Se o tema comum desses pensadores é a relação entre a ciência e a religião, entre a razão e o sentimento, as diferenças entre eles são, sob muitos aspectos, marcantes.

Durkheim é, por formação, um filósofo de universidade francesa e coloca no centro da sua reflexão a necessidade do consenso social. Por outro lado, o modo como formulou o problema das relações entre ciência e religião recebeu a influência do clima intelectual da França no fim do século XIX, época em que a escola laicista buscava uma moral diferente da religiosa.

Italiano, Pareto, engenheiro de profissão, elaborou uma teoria matemática da economia e, gradualmente, querendo apreender a realidade social concreta, descobriu a insuficiência do formalismo matemático e econômico, e ao mesmo tempo o papel dos sentimentos na conduta do homem. O pensamento de Pareto se baseia na constatação de que o comportamento humano, irracional do ponto de vista científico, pode ser socialmente eficaz, e útil.

Por formação, Max Weber foi jurista e historiador. A metodologia de Max Weber pode ser explicada amplamente pela relação entre a ciência e a atividade, entre a sociologia e a política. Deseja uma ciência neutra, porque não quer que o professor utilize seu prestigio para impor as ideias que tem. Mas quer que a ciência neutra seja útil para o homem de ação e para a política.

Além disso, para Weber, há nas sociedades modernas características intrínsecas que são inevitáveis e devem ser aceitas; mas a burocracia e a racionalização não determinam a totalidade da ordem social, e deixam em aberto a dupla possibilidade: o respeito às pessoas e às liberdades e o despotismo.

A aproximação entre os três pensadores que vamos estudar nas páginas seguintes não é, portanto, arbitrária. O que há de semelhante entre eles são os elementos comuns da situação europeia, que os três observam e reconhecem. O que há de diferente reflete o contexto intelectual e nacional de cada um, que lhe influencia o modo de expressão conceitual. E também a manifestação das suas personalidades. Esses estilos precisam ser apreciados, na interpretação histórica, para que suas doutrinas sociológicas apareçam verdadeiramente como realmente foram, isto é, não somente um esforço de compreensão científica, mas também a expressão de três homens ou ainda os diálogos entre homens e uma situação histórica.

Invista mo Resumo da Obra

Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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