As Etapas do Pensamento Sociológico: Auguste Comte – As Três Etapas do Pensamento de Comte

COMPARTILHE:
Share

Resumo de Três Etapas do Pensamento de Comte, capítulo de As Etapas do Pensamento Sociológico de Raymond Aron. Bons estudos!

Para Montesquieu, o objetivo da ciência é por ordem num caos aparente; é o que consegue, concebendo tipos de governo ou de sociedade. Montesquieu parte da diversidade para chegar à unidade humana. Auguste Comte, ao contrário, é o sociólogo da unidade da história humana.

Como só há um tipo de sociedade absolutamente válido, toda a humanidade deverá, segundo sua filosofia, chegar a esse tipo de sociedade.

As três etapas do pensamento de Comte

Podemos apresentar as etapas da evolução filosófica de Auguste Comte como representando as três formas pelas quais a tese da unidade humana é afirmada, explicada e justificada. Essas três etapas estão marcadas pelas três obras principais de Comte.

A primeira, entre 1820 e 1826, é a dos “Opúsculos de Filosofia Social: Apreciação Sumária do Conjunto do Passado Moderno”, abril de 1820; “Prospecto dos Trabalhos Científicos Necessários para Reorganizar a Sociedade”, abril de 1822; “Considerações Filosóficas Sobre as Ideias e os Cientistas”, novembro-dezembro de 1825; “Considerações Sobre o Poder Espiritual”, 1825-26. A segunda etapa está constituída pelas lições do “Curso de Filosofia Positiva”, 1830-42; a terceira, pelo “Sistema de Política Positiva ou Tratado de Sociologia Instituindo a Religião da Humanidade”, publicado de 1851 a 1854.

Na primeira etapa, Comte defende que um certo tipo de sociedade, caracterizado pelos dois adjetivos, teológico e militar, está em via de desaparecer.

O cimento da sociedade medieval era a fé transcendental, interpretada pela Igreja Católica. O modo de pensar teológico era contemporâneo da predominância da atividade militar cuja expressão era a atribuição das primeiras posições aos homens de guerra. Um outro tipo de sociedade, científica e industrial, está em via de nascer. Os cientistas substituem os sacerdotes e teólogos como a categoria social que dá a base intelectual e moral da ordem social. Os industriais, no sentido mais amplo – isto é, os empreendedores, diretores de fábricas, banqueiros -, estão assumindo o lugar dos militares. A partir do momento em que os homens pensam cientificamente, a atividade principal das coletividades deixa de ser a guerra de homens contra homens, para se transformar na luta dos homens contra a natureza, ou na exploração racional dos recursos naturais.

A orientação geral do pensamento e, sobretudo, os planos de transformação de Comte decorrem dessa interpretação da sociedade da época. Auguste Comte observa a contradição de dois tipos sociais que, segundo ele, só pode ser resolvida pelo triunfo do tipo social que chama de científico e industrial. Essa vitória é inevitável, mas pode ser mais ou menos acelerada, ou retardada. A função da sociologia é compreender o devenir necessário, isto é, indispensável e inevitável, da história, de modo que ajude a realização da ordem fundamental.

*

Na segunda etapa, a do Curso de Filosofia Positiva, a perspectiva é ampliada; Auguste Comte passa em revista as diversas ciências, desenvolve e confirma as duas leis essenciais, que já tinha enunciado nos opúsculos: a lei dos três estados e a classificação das ciências.

Segundo a lei dos três estados, o espírito humano teria passado por três fases sucessivas. Na primeira, o espírito humano explica os fenômenos atribuindo-os a seres, ou forças, comparáveis ao próprio homem. Na segunda, invoca entidades abstratas, como a natureza. Na terceira, o homem se limita a observar os fenômenos e se contenta em estabelecer as leis que os governam.

No pensamento de Comte, a lei dos três estados só tem um sentido rigoroso quando combinada com a classificação das ciências. A ordem segundo a qual são ordenadas as diversas ciências nos revela a ordem em que a inteligência se torna positiva nos vários domínios. Em outras palavras, a maneira de pensar positiva se impôs mais cedo nas matemáticas, na física, na química, e depois na biologia.

A combinação da lei dos três estados com a classificação das ciências tem por objetivo provar que a maneira de pensar que triunfou na matemática, na astronomia, na física, na química e na biologia deve, por fim, se impor à politica, levando à constituição de uma ciência positiva da sociedade, a sociologia.

A partir de uma certa ciência, a biologia, intervém uma reviravolta decisiva em termos de metodologia: as ciências deixam de ser analíticas para serem, necessária e essencialmente, sintéticas. Essa inversão irá dar um fundamento à concepção sociológica da unidade histórica. As ciências da natureza inorgânica, a física e a química, são analíticas no sentido de que estabelecem leis entre fenômenos isolados, e isolados necessária e legitimamente. Na biologia, porém, é impossível explicar um órgão ou uma função sem considerar o ser vivo como um todo.

Essa ideia da primazia do todo sobre os elementos deve ser transposta para a sociologia. É impossível compreender o estado de um fenômeno social particular se não o recolocamos no todo social. Não se pode entender a situação da religião, ou a forma precisa do Estado, numa sociedade particular, sem considerar o conjunto dessa sociedade. Da mesma forma como só é possível compreender um elemento do todo social considerando esse mesmo todo, não se pode entender um momento da evolução histórica sem levar em conta o conjunto dessa evolução.

Na terceira etapa do seu pensamento, Comte justifica, por uma teoria da natureza humana e da natureza social, essa unidade da história humana.

*

O Système de Politique Positive corresponde a uma tendência do pensamento comtista que já é visível na primeira e, sobretudo, na segunda etapa. Para que a história humana seja uma só, é preciso que o homem tenha uma certa natureza reconhecível e definível, através de todos os tempos e de todas as sociedades. É preciso, em segundo lugar, que toda sociedade comporte uma ordem essencial que se possa reconhecer através da diversidade das organizações sociais. Finalmente, é preciso que essa natureza humana e essa natureza social sejam tais que possamos inferir delas as principais características do devenir histórico. Se pode explicar o essencial do Système de Politique Positive por essas três ideias.

*

O ponto de partida do pensamento de Comte é, portanto, uma reflexão sobre a contradição interna da sociedade do seu tempo, entre o tipo teológico-militar e o tipo científico-industrial.

Daí, Comte passa ao “Curso de filosofia positiva”, isto é, à síntese do conjunto da obra científica da humanidade, para identificar os métodos que foram aplicados nas várias disciplinas e os resultados essenciais obtidos em cada uma delas. Esta síntese dos métodos e dos resultados deve servir de base para a criação da ciência que ainda está faltando, a sociologia. A função da sociologia que Comte quer criar é resolver a crise do mundo moderno, isto é, fornecer o sistema de ideias científicas que presidirá à reorganização social.

Montesquieu e Tocqueville atribuem uma certa primazia à política, à forma do Estado; Marx, à organização econômica. A doutrina de Auguste Comte se baseia na ideia de que toda sociedade se mantém pelo acordo dos espíritos. Só há sociedade na medida em que seus membros tem as mesmas crenças. É a maneira de pensar que caracteriza as diferentes etapas da humanidade, e a etapa final será marcada pela generalização triunfante do pensamento positivo.

A concepção comtista da unidade humana assume três formas, nos três momentos principais da sua carreira: a sociedade que se desenvolve no Ocidente é exemplar, e será seguida como modelo por toda a humanidade; a história da humanidade é a história do espírito enquanto devenir do pensamento positivo ou enquanto aprendizado do positivismo pelo conjunto da humanidade; a história da humanidade é o desenvolvimento da natureza humana.

Esses três temas representam três interpretações possíveis do tema da unidade da espécie humana.

Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

More Posts

Follow Me:
Twitter

Desabafos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Time limit is exhausted. Please reload CAPTCHA.