As Etapas do Pensamento Sociológico: Max Weber – Economia e Sociedade

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Resumo de Weber – Economia e Sociedade. Capítulo de As Etapas do Pensamento Sociológico de Raymond Aron. Boa leitura!

Economia e sociedade (Wirtschaft und Gesellschaft) é um tratado de sociologia geral que tem o objetivo de tornar inteligíveis as diferentes formas de economia, de direito, de dominação e de religião, inserindo-as num único sistema conceitual. Propõe-se a pôr em evidência a originalidade da civilização ocidental, comparativamente às outras civilizações.

Procurarei retraçar as etapas da conceituação geral para explicar em que consiste aquilo que alguns tem chamado de nominalismo e individualismo de MAX WEBER. Tomarei como exemplo a sociologia política, para mostrar como se opera a conceituação weberiana num nível menos abstrato.

Segundo Max Weber, a sociologia é a ciência da ação social, que ela quer compreender interpretando e cujo desenvolvimento quer explicar socialmente. Os três termos fundamentais são, aqui, compreender, interpretar e explicar.

A AÇÃO SOCIAL é um comportamento humano que é ação quando o ator atribui à sua conduta um certo sentido. A ação é social quando, de acordo com o sentido que lhe atribui o ator, se relaciona com o comportamento de outras pessoas. O professor age socialmente na medida em que o ritmo lento da sua elocução se relaciona com a conduta dos seus estudantes. Se falasse sozinho, muito depressa, sem se dirigir a ninguém, sua ação não seria social.

A ação social se organiza em relação social. Há uma relação social quando o sentido de cada ator ou de um grupo de atores que age, se relaciona com a atitude do outro, de modo que suas ações são mutuamente orientadas. A regularidade da relação social pode ser apenas o resultado de um longo hábito, mas é mais frequente que haja fatores suplementares: a convenção ou o direito.

A ORDEM LEGÍTIMA é convencional quando a sanção que responde à sua violação é uma desaprovação coletiva. É jurídica quando esta sanção assume a forma de coerção física. As ordens legítimas podem ser classificadas de acordo com as motivações dos que obedecem. Weber distingue quatro tipos: as ordens são afetivas ou emocionais, racionais com relação a valores, religiosas e, finalmente, determinadas pelo interesse.

Dois outros conceitos importantes são os de PODER e de DOMINAÇÃO. O poder é definido como a probabilidade de um ator impor sua vontade a outro, mesmo contra a resistência deste. A dominação pode ser definida pela probabilidade que tem o senhor de contar com a obediência dos que, em teoria, devem obedecê-lo. A diferença entre poder e dominação está em que, no primeiro caso, o comando não é necessariamente legítimo, nem a obediência forçosamente um dever; no segundo, a obediência se fundamenta no reconhecimento, por aqueles que obedecem, das ordens que lhes são dadas. As motivações da obediência permitirão construir uma tipologia da dominação.

A sociologia política de Weber se baseia numa distinção entre a essência da economia e a essência da política, estabelecida a partir do sentido subjetivo das condutas humanas. A economia tem a ver com a satisfação das necessidades e com o objetivo determinado pela organização racional da conduta; a política se caracteriza pela dominação exercida por um homem ou por alguns homens sobre outros homens. A política é, portanto, o conjunto das condutas humanas que comportam a dominação do homem pelo homem. É preciso afastar a conotação desagradável desta palavra, entendendo-a apenas como a probabilidade de que as ordens dadas sejam efetivamente cumpridas pelos que as recebem.

OS TIPOS DE DOMINAÇÃO SÃO TRÊS: RACIONAL, TRADICIONAL E CARISMÁTICA. A tipologia se fundamenta no caráter da motivação que comanda a obediência. Racional é a dominação baseada na crença na legalidade da ordem e dos títulos dos que exercem a dominação. Tradicional é a dominação fundamentada na crença do caráter sagrado das tradições antigas e na legitimidade dos que são chamados pela tradição a exercer a autoridade. Carismática é a dominação que se baseia no devotamento fora do cotidiano, justificado pelo caráter sagrado ou pela força heroica de uma pessoa e da ordem revelada ou criada por ela.

Max Weber esforça-se por demonstrar como é possível passar da definição simplificada de uma forma de dominação para a infinita diversidade das instituições historicamente observadas, mediante a discriminação de diferentes modos. A diversidade histórica se torna inteligível, porque deixa de parecer arbitrária.

A análise das transformações da dominação carismática é exemplar. A dominação fundamentada nas qualidades excepcionais de um homem pode sobreviver a esse homem? Max Weber se volta para uma tipologia dos métodos pelos quais se resolve o problema mais importante da dominação carismática, que é o da sucessão. Pode haver uma procura organizada de outro portador do carisma, como na teocracia tibetana tradicional. Pode-se admitir que o carisma é inseparável do sangue, tornando-se hereditário. A dominação carismática leva neste caso à dominação tradicional.

Este exemplo ilustra bem o método e o sistema de Max Weber. Trata-se de elaborar uma sistematização que permita ao mesmo tempo integrar fenômenos diversos num quadro contextual único e não eliminar o que constitui a singularidade de cada regime ou de cada sociedade.

Esta forma de conceituação não tem só por fim uma compreensão sistemática, mas também a colocação dos problemas de causalidade ou das influências recíprocas dos diferentes setores do universo social. A categoria que domina esta análise causal é a de oportunidade ou de influência e de probabilidade. Um tipo de economia influencia o direito num certo sentido; é provável que um tipo de dominação se manifeste na administração ou no direito de uma certa maneira. Mas não pode haver causalidade unilateral de uma série de instituições particulares sobre o resto da sociedade.

A sociologia política de Weber leva a uma interpretação da sociedade presente, como sua sociologia da religião conduz a uma interpretação das civilizações contemporâneas. O que singulariza o universo em que vivemos é o “desencantamento” do mundo. A ciência nos habitua a ver a realidade exterior apenas como conjunto de forças cegas que podemos por à nossa disposição; nada resta dos mitos e das divindades com que o pensamento selvagem povoava o universo. Nesse mundo despojado desses encantamentos, as sociedades se desenvolvem no sentido de uma organização cada vez mais racional e burocrática.

Por outro lado, quanto mais racional a sociedade, mais cada um de nós esta condenado ao que os marxistas chamam de alienação. Sentimo-nos condenados a só realizar uma parte daquilo que poderíamos ser, sem outra esperança de grandeza senão a de aceitar tal limitação.

É preciso salvaguardar antes de tudo, dizia Max Weber, os direitos humanos, que dão a cada indivíduo a possibilidade de viver uma existência autêntica, independentemente do lugar que ocupa na organização racional. Do ponto de vista político, é graças à livre competição que se afirma a personalidade e podem ser escolhidos os líderes verdadeiros, não meros burocratas.

Além da racionalização científica do mundo, precisamos reservar os direitos de uma religião puramente interior. Além da racionalização burocrática, é preciso salvaguardar a liberdade de consciência e o confronto das pessoas.

O mundo é racionalizado pela ciência, pela administração e pela gestão rigorosa dos empreendimentos econômicos, mas continua a luta entre as classes, as nações e os deuses. Como não há um juiz, só existe uma atitude adequada à dignidade: a escolha solitária de cada um de nós, diante da sua consciência. Max Weber dizia: escolha e decisão. A decisão era menos a escolha entre dois partidos do que o engajamento em favor de um deus que podia ser um demônio.

Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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