Resumo do prefácio de O Conservadorismo, obra de Robert Nisbet. Boa leitura!
O conservadorismo é uma das três ideologias políticas mais importantes dos últimos séculos no Ocidente, ao lado do liberalismo e do socialismo. Ideologia é qualquer conjunto de ideias morais, econômicas, sociais e culturais razoavelmente coerente, possuindo uma relação sólida e óbvia com a política e o poder político; mais especificamente, é uma base de poder para possibilitar o triunfo do conjunto de ideias. Uma ideologia, em contraste com uma simples configuração de opiniões, permanece viva por um espaço de tempo considerável, tem defensores e porta-vozes influentes e um respeitável grau de institucionalização.
Qualquer ideologia recorre a associações com a prática política – a esfera dos políticos, partidos políticos, manifestos e leis aprovadas – assim como a livros, artigos e conferências. Numa primeira apreciação poderíamos inclinar-nos mais para a primeira esfera do que para a segunda, para a esfera das campanhas, das eleições, do governo no poder e dos discursos políticos. Mas, se virmos bem, isto é enganador e até traiçoeiro. Tentar encontrar as origens da ideologia nas decisões e nas ações até mesmo do mais ilustre dos políticos origina a maior parte das vezes confusão. Não que as ideologias sejam imutáveis e impenetráveis aos golpes dos homens e dos acontecimentos. Mas nenhum político vive apenas de ideologia; todos eles são ao mesmo tempo maiores e mais pequenos do que as ideologias que representam.
Onde iremos, então, buscar a substância de uma ideologia? T. S. Eliot, numa conferência sobre literatura e política, forneceu-nos a resposta: na “pré-política”, o “estrato onde qualquer pensamento político sólido deve mergulhar as suas raízes e de onde deve extrair alimento”. É o estrato que é criado ao longo de um considerável espaço de tempo por pessoas diversas, críticos sociais, filósofos políticos, ensaístas, mesmo pelos próprios políticos altamente experientes. Eliot afirmou que, normalmente, haverá uma “gradação de tipos entre o pensamento e a ação”; num extremo os contemplativos e no outro “os sargentos da política”; e entre estes dois está o “pré-político”.
O meu interesse essencial neste livro é o “pré-político” do conservadorismo moderno, embora sem descurar [descuidar] o político. Abordo principalmente a tradição do pensamento político, que se estende desde Edmund Burke até contemporâneos como Russel Kirk, Michael Oakeshott e Bertrand de Jouvenel. O importante para os meus objetivos são as largas perspectivas, os critérios e propostas essenciais, e os impulsos intelectuais do conservadorismo desde que este conjunto de pensamentos existe no Ocidente.
Pus em destaque os elementos do conservadorismo que me parecem não só importantes mas também característicos, quando vistos contra o pano de fundo formado por outras ideologias. Pode ser verdade chamar ao conservadorismo a “política de liberdade” mas não se adianta muito, visto que, mal ou bem, o liberalismo e o socialismo poderiam descrever-se a si próprios da mesma maneira e com igual fundamento. Procurei, portanto, os temas que são de imediato distintivos no conservadorismo e que têm tido uma continuidade evidente durante os últimos 200 anos.
Evitei propositadamente localizar cronologicamente os filósofos citados, pois não se trata da história do conservadorismo, mas antes da anatomia da ideologia. Citei BURKE mais do que qualquer outro pois Burke é o MARX ou o MILL do conservadorismo. A essência de uma ideologia importante, assim como de uma religião ou teologia, é pôr em evidência a continuidade e a solidez. As ciências procuram constantemente ultrapassar os seus criadores, mas as ideologias não. Eis por que Burke teria hoje pouca dificuldade em trocar impressões com os Juvenels, os Kirks e os Oakeshotts de entre os “pré-políticos”, e também com as Thatchers e os Reagans do “estrato político”.
Bibliografia
NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.