Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas: Rio Amazonas – A Fronteira Conquistada

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Resumo de Navegantes Bandeirantes Diplomatas – Rio Amazonas – A Fronteira Conquistada, capítulo 7 da obra de Synesio Sampaio Goes Filho. Boa leitura!

7.1 A descida de Francisco de Orellana

O rio Amazonas foi descoberto em 1499 ou 1500 por navegantes a serviço da Espanha; mas foi Portugal quem se apossou das duas margens e da maior parte da enorme bacia do Amazonas.

A primeira navegação completa do Amazonas foi realizada a partir dos Andes. Foi obra de um dos veteranos da conquista do Peru, Francisco de Orellana, lugar‑tenente de Gonzalo Pizarro, Governador de Quito. O rio, que teve vários nomes, acabou ficando com o nome de rio (das) Amazonas, pela impressão que deixou em seus leitores a história das mulheres guerreiras, contada pelo cronista da expedição, Frei Gaspar de Carbajal. O religioso afirma tê‑las visto combatendo à frente das tropas indígenas, “como se fossem seus capitães”.

Depois dessa primeira viagem, Orellana, já com o título de “Governador e Capitão‑General das terras que descobrisse”, organizou na Espanha, em 1546, uma expedição para conquistar e povoar a região; mas fracassou. O próprio conquistador foi flechado e morto pelos índios.

7.2 A subida de Pedro Teixeira

Setenta e cinco anos depois da viagem de Orellana, fundam os portugueses, comandados por Francisco Caldeira Castelo Branco, na foz do Amazonas, o Forte do Presépio, origem da povoação de Nossa Senhora de Belém. Era 1616 e acabavam os peninsulares de destruir o sonho francês de criar uma “France Equinoxiale”, a partir do núcleo de São Luís, estabelecido na ilha do Maranhão, por Daniel de la Touche, quatro anos antes. A tomada de pé no imenso delta garantiu a ocupação futura da maior parte do rio e de seus afluentes.

Não foram fáceis as primeiras três décadas de Belém, anos de lutas constantes com estrangeiros e índios hostis. Nas proximidades da grande reentrância amazônica, havia estabelecimentos holandeses, ingleses, franceses (tanto Jaime I da Inglaterra, como Luís XIII da França haviam “doado” a seus nacionais terras entre o Essequibo e o Amazonas). Só por volta de 1645, conseguiu‑se expulsar todos os estrangeiros das proximidades do delta marajoara.

Para assegurar melhor apoio da metrópole à nova conquista, havia sido criado, em 1622, o Estado do Maranhão, com capital em São Luís, diretamente subordinado a Lisboa. Essa vinculação visava a superar as enormes dificuldades de comunicações que havia entre a costa norte e Salvador, por causa da direção contrária dos ventos e das correntes marítimas. O Estado, que durou até 1774, passou a se chamar do Grão‑Pará e Maranhão, quando Belém, por sua melhor posição econômica e estratégica, tornou‑se capital em 1737.

Em 1637, quase cem anos após o feito de Orellana, deu‑se a primeira viagem à contracorrente, até Quito, de grande relevo para a expansão portuguesa pela bacia amazônica. Não há aqui dúvidas sobre a origem oficial do empreendimento: eram ordens do Governador do Estado do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha. Estímulos para a viagem não faltavam; se bem sucedida, possibilitaria o comércio com os espanhóis do Peru, o acesso a uma região onde havia metais preciosos e a conquista de terras para Portugal.

O comando da armada de 47 canoas grandes, setenta soldados, alguns religiosos e 1.200 indígenas coube a Pedro Teixeira, um veterano dos primeiros tempos de Belém e da luta para expulsar os estrangeiros da foz do Amazonas. O guia escolhido foi um dos religiosos que haviam recentemente descido o rio, Frei Domingos de Brieva. Pedro Teixeira levava ordens para fundar uma povoação que marcasse o limite entre as terras portuguesas e espanholas e para tomar posse da enorme região situada a leste desse ponto, em nome do rei comum da Espanha e de Portugal, mas − o que era fundamental − para sua Coroa portuguesa. A povoação, fundada em 1639, chamou-se Franciscana. Não há muitas informações sobre e dela não existem, hoje, traços físicos, mas o gesto ficou. E é hoje considerado, como ensina Helio Vianna, “da maior importância para a história da expansão territorial portuguesa na América do Sul”.

A viagem de Pedro Teixeira teve também como cronista um religioso espanhol, o jesuíta Cristóbal de Acuña, que acompanhou a navegação de regresso de Quito, aonde chegara Teixeira, até Belém. O Padre Acuña nada fala de Franciscana. Talvez, por ser espanhol e escrever depois da separação das Coroas, tivesse o interesse patriótico de omitir um fato que poderia, no futuro, ser alegado − como realmente o foi − como prova da ocupação portuguesa. É certo que tinha preocupações com a expansão portuguesa na Amazônia, nítidas na memória que, após a viagem, escreveu ao seu rei, aconselhando‑o a ocupar todo o vale do rio. Mas, felizmente para a formação territorial do Brasil, o rei da Espanha não ouviu o Padre Acuña.

7.3 Povoamento

Ernani Silva Bruno, no volume sobre a Amazônia de sua História do Brasil, dá o título expressivo de “Droga, índio e missionário” ao capítulo que trata da ocupação dos vales dos rios da bacia amazônica entre 1640 e 1755. Tem razão, pois nesse período o que se vê principalmente é o entrelaçamento desses três fatores. A obra de catequese religiosa, fundamental para a ocupação portuguesa da Amazônia, foi realizada nas missões; integradas por nacionais e apoiadas pela Coroa, agiam como representantes dos interesses de Portugal. Mas, sem as “drogas do sertão”, não haveria base econômica para se estabelecer permanentemente; prova disso é que as missões que prosperaram foram as que tiveram sucesso na exploração dessas especiarias americanas.

Para completar a menção aos agentes principais da penetração pelo grande rio e seus afluentes, a partir do foco irradiador de Belém, é necessário citar os colonos leigos, geralmente mestiços e falantes da língua geral (como os mamelucos de São Paulo), que eram os droguistas do sertão, às vezes integrantes das chamadas tropas de resgate (ou tropas de guerra), verdadeiras bandeiras fluviais voltadas principalmente para a preação dos selvagens. Arthur Cézar Ferreira Reis lembra que essas tropas tinham adicionalmente o objetivo militar de “sustentar o domínio lusitano contra as incursões de franceses e espanhóis que se sucederam aos ingleses e batavos nas tentativas de apossar‑se da Amazônia”.

A conquista da Amazônia teve sempre, em escalas variáveis no tempo e no espaço, a orientação e o apoio da Coroa portuguesa. Disso não deixa dúvida o especialista da região acima mencionado:

“A conquista do espaço, pelo que se constata do vasto documentário já divulgado, foi empresa oficial. Podemos encontrar nas expedições que subiram e desceram rios (…) uma iniciativa privada ou uma obediência a motivações imediatistas. Nem por isso, todavia, deve deixar‑se de aceitar a tese de que a expansão e a consequente criação da base física foi empresa estatal. A série de cartas régias, de instruções menores que se expediram de Lisboa, concertando uma política decisivamente voltada para a ampliação territorial, não admite dúvidas a respeito.”

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Bibliografia:

GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil. Brasília: FUNAG, 2015.

Agradecemos à Patrícia Derolle, do E-Internacionalista, pela dica.

A íntegra da obra pode ser acessada aqui.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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