Resumo do verbete Consciência de Classe, presente em Dicionário do Pensamento Marxista, organizado por Tom Bottomore. Boa leitura!
MARX estabeleceu uma distinção entre a condição de classe (situação objetiva), e consciência de classe (subjetiva).
As diferenciações sociais só assumem a forma de “classe” na sociedade capitalista. Nas sociedades estamentais pré-burguesas, um aristocrata era sempre um aristocrata, pois pertencer a um estamento é uma norma hereditária e as estruturas de estamento se sobrepunham às relações de propriedade. Por sua vez, pertencer a uma classe depende de conhecer sua própria posição dentro do processo de produção. A consciência de estamento é, portanto, fundamentalmente diferente da consciência de classe.
A consciência de classe na burguesia e no proletariado surge a partir da luta entre o Terceiro Estado e os dirigentes do Antigo Regime. A formação dessa consciência coincide com a ascensão de uma organização de classe abrangente. Por exemplo: uma luta sindical em uma determinada empresa amplia-se com base em uma identidade de interesses até tornar-se uma questão comum a toda classe, que também cria um instrumento adequado para a organização – o partido político.
A compreensão e defesa dos interesses comuns de toda uma classe podem, muitas vezes, entrar em conflito com os interesses particulares (de curto prazo, imediatos) de certos trabalhadores. A diferença entre a estrutura assalariada e as tentações da concorrência crescente levou a um enfraquecimento da solidariedade de classe e, assim, da consciência de classe nas sociedades altamente industrializadas.
De acordo com Kautsky e Lenin, uma consciência política (a adequada), chegaria à classe operária “por fora”, e seria desenvolvida por intelectuais que, por serem bem informados e estarem distantes do processo de produção imediato, tem condições de compreender a sociedade burguesa e suas relações de classe em sua totalidade. Lenin imaginou, para transmitir a consciência de classe à classe operária concreta, um partido composto de revolucionários profissionais. Rosa Luxemburg, por sua vez, defendeu o papel da experiência da luta de classes na formação da consciência de classe. Para ela, o patrocínio do proletariado pelos intelectuais só poderia levar ao enfraquecimento da capacidade de agir e à passividade.
A definição que Lukács propõe de consciência de classe vem, como a de Lenin, da tese de que a consciência de classe adequada, ou política, deve levar em conta a sociedade, o sistema de produção em um determinado ponto da história e a divisão da sociedade em classes. Relacionando a consciência com a totalidade da sociedade, seria possível inferir os pensamentos e sentimentos adequados à sua situação objetiva. A consciência de classe consiste das reações adequadas e racionais “atribuídas” a uma posição particular no processo de produção. As ações historicamente significativas da classe como um todo são determinadas em última análise por essa consciência, não pelo pensamento dos indivíduos. A classe só pode agir (com êxito) se adquirir consciência de si mesma. Se uma determinada classe, como a pequena burguesia é incapaz disso, sua ação política também fracassará, necessariamente.
Bibliografia:
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Trad. de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.